Diante da alta expressiva dos juros longos nos Estados Unidos nas últimas semanas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pode reconhecer, no comunicado da decisão da próxima quarta-feira, que o ambiente externo se tornou mais desafiador para emergentes e destacar os riscos que o cenário global pode trazer para a condução da política monetária.
“Acreditamos que podemos ver mudanças no parágrafo inicial. Com base no que os diretores vêm falando, caso as taxas longas de juros nos EUA subam mais, isso acarretaria em um cenário mais desafiador para emergentes e ele poderia destacar quais seriam esses riscos”, afirma a economista Daniela Lima, da Kinea Investimentos.
Segundo ela, no entanto, é preciso lembrar que o canal de transmissão do cenário externo para a política monetária acaba sendo o câmbio, já que o Banco Central não faz política monetária apenas olhando para as decisões do Federal Reserve. “Por enquanto, o câmbio tem se mantido comportado. Se você nos perguntasse há dois meses onde estaria o câmbio com o juro da Treasury de 10 anos a 5%, dificilmente alguém diria que ele estaria onde está”, aponta.
Assim, em meio a um cenário de poucas alterações nos componentes que afetariam os modelos de inflação do Banco Central desde a última reunião, tanto as projeções como a comunicação para os próximos passos do Copom não devem sofrer grandes alterações na quarta-feira.
“O balanço mudou pouco. O dólar saiu de R$ 4,90 para R$ 5,00 e as commodities permaneceram de lado. Houve melhora na inflação corrente, especialmente na parte de serviços e nos componentes mais inerciais, mas o Copom deve continuar sinalizando o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual e não vemos grandes mudanças para as próximas reuniões”, afirma Lima.
A Kinea vê uma Selic em 10% ao fim do processo de afrouxamento monetário pelo Banco Central. Segundo a economista, este é o patamar de juro terminal alcançado quando são levados em conta os cenários de taxa de desemprego e inflação nos modelos da gestora, utilizando a mesma taxa de juros neutra adotada pelo Banco Central — atualmente de 4,5%.
“Temos 3,7% de inflação para o ano que vem para uma meta de 3%. Quando pensamos em 2025, parece menos provável que a inflação seja de 3% do que 4% e uma inflação acima da meta prescreve uma taxa de juro um pouco maior”, diz a economista.
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Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos — Foto: Divulgação
Fonte: Valor Econômico

