2 Feb 2023 EDUARDO RODRIGUES THAÍS BARCELLOS
Depois de sucessivas críticas do governo Lula sobre o nível da taxa de juros, o Banco Central (BC) respondeu ontem, por meio de comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que a incerteza fiscal pode manter a Selic no alto por ainda mais tempo. Inclusive, até o fim de 2024. Autônomo, o BC cumpriu o plano de voo ao decidir pela estabilidade da taxa em 13,75% e endureceu o tom diante da deterioração que percebe no cenário de inflação futura – citada diversas vezes no comunicado.
Para o Copom, a incerteza fiscal e o desvio de expectativas inflacionárias em prazos mais longos demandam “maior atenção na condução da política monetária”. No comunicado, os diretores do BC incluíram um parágrafo com um tom de alerta sobre a incerteza fiscal admitindo que há um custo maior para que a inflação caia. “A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”, afirmou o colegiado.
Para dar a dimensão do “custo” de reduzir a inflação, o BC incluiu no comunicado um cenário alternativo para a inflação, em que a Selic continua por todo o horizonte relevante (2023 e 2024) em 13,75% – nível que já foi considerado “fora de propósito” pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
DESACELERAÇÃO. Parada em 13,75% desde agosto, a Selic já faz seus efeitos na atividade econômica. OBC enfatizou que os dados mais recentes corroboram o cenário de desaceleração do crescimento do País e de alta nas expectativas de inflação não só para este ano mas também para os seguintes.
No mais recente Boletim Focus, a estimativa para inflação era de 5,74% para 2023, acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022. Para 2024, a previsão de mercado é de 3,90%, mais alta do que o alvo central de 3%, mas aquém do limite superior de 4,50%. Para 2025 e 2026, a projeção estava em 3,50%. A meta para 2025 é de 3,00% e, para 2026, o objetivo inflacionário ainda não foi definido.
Expectativas de inflação elevadas são uma espécie de “inflação contratada”, segundo economistas, o que pode impor ao BC a necessidade de manter a Selic no patamar alto por um período maior ou até elevar a taxa.
Juros básicos altos encarecem o crédito e derrubam o consumo da população e os investimentos produtivos. Além disso, investidores buscam retornos reais em suas aplicações financeiras, ou seja, já descontada a taxa de inflação esperada. Expectativas de inflação mais alta fazem os investidores exigirem juros maiores, o que eleva o custo de captação de empresas e do governo. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

