Por Matheus Prado — De São Paulo
20/06/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
O investidor institucional local, principalmente os fundos de investimento, pode continuar a aumentar sua exposição à bolsa depois do salto recente, mas a magnitude deste movimento depende de novos recursos. É o que mostra uma pesquisa do Santander respondida por 77 gestores na última semana e antecipada ao Valor.
Apesar de o Ibovespa ter avançado 22,4% desde o fim de março, 57,2% dos participantes (41,6% moderadamente) esperam aumentar sua exposição ao mercado de ações nos próximos seis meses – ainda que 77,9% (53,2% moderadamente) já tenham aumentado nos últimos dois meses. No entanto, 69% já têm posição de caixa em linha ou abaixo da média histórica, o que indica uma margem pequena de atuação à frente.
Aline Cardoso, diretora de pesquisa em ações do Santander Brasil, diz que, em maio, os investidores aumentaram seus níveis de alocação em bolsa sem tanta convicção, dando preferência às empresas com maior liquidez e com racional de venda rápida em caso de quedas. Agora, com os dados de inflação surpreendendo para baixo e os de atividade para cima, o viés parece ter mais fundamento.
“Mas entendo que parte significativa desse primeiro rali já foi. Os fundos multimercado, que seguem com alocação baixa em bolsa (já foi 15% do patrimônio sob gestão, hoje é cerca de 5%), podem continuar sendo compradores. Já os fundos de ações, apesar de relatos de que os resgates desaceleraram, podem precisar de dinheiro novo para ampliar as apostas”, diz, notando que dois terços dos respondentes da pesquisa tocam produtos com o segundo perfil.
O setor que o grupo mais adicionou às carteiras foi consumo discricionário (65%), seguido por construção civil e shoppings (27%) e serviços públicos (26%). Apenas 9% dos investidores, por outro lado, mencionaram o setor de metais e mineração, refletindo as incertezas em torno da economia chinesa e a vocação local da recuperação recente da bolsa, mesmo com resultados fracos por vir.
“É consensual entre os gestores que os números do segundo semestre ainda devem ser ruins, mas agora o mercado já está olhando para 2024, quando o consenso já aponta para crescimento de 7% nos lucros das empresas”, afirma. Historicamente, diz, os ralis provocados pela queda dos juros têm três etapas: a primeira, que ocorre agora, é de expansão dos múltiplos; depois dos primeiros cortes há outra pernada, já com a taxa menor impactando positivamente os resultados das empresas; e a terceira, normalmente quando a Selic cai abaixo de 10%, quando o investidor pessoa física volta à bolsa.
Em termos de “cost of equity” (da sigla Ke, ou custo de capital, que representa o retorno mínimo necessário para que um investidor aporte em uma companhia, tendo em vista que a taxa de juros é o custo mínimo de capital), os participantes afirmaram que começaram a revisar seus modelos para dar conta da queda de cerca 3 pontos percentuais das taxas longas, mas Cardoso vê espaço para mais.
“Atualmente, 70,1% dos gestores trabalham com um Ke de 14% ou mais. Mas, ao perguntarmos como ficaria este número se revisado agora, 59,8% afirmaram que adotariam patamar inferior a 14%. É um processo que começou agora, mas já tem pernas para avançar com o patamar atual dos juros futuros e pode ganhar mais força.”
Fonte: Valor Econômico

