Segundo Ciocchi, isso ocorre porque os reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) chegam ao início deste período seco do ano com um volume de armazenamento de água de 63,1%, atingindo o melhor nível de armazenagem desde 2012, ante os 35,3% do ano passado. O executivo prevê para este ano uma travessia do período úmido para o seco mais segura do que a ocorrida em 2021.
Os reservatórios do Sudeste/Centro-oeste representam 70% de toda a capacidade de armazenamento do país. A preocupação é com os reservatórios do subsistema Sul, único abaixo da média, com cerca de 50% de capacidade, mas as chuvas de abril estão acima das expectativas.
“Nessa situação, a tendência, a expectativa é que a gente passe todo o ano com bandeira verde. Teremos um ano bastante bom, bastante tranquilo, que não vai causar tanta dor de cabeça, tanta dor no bolso”, disse o diretor, em entrevista coletiva para falar sobre o início do período seco do ano, que vai do fim de abril a outubro.
No ano passado, o Brasil viveu a pior seca em 91 anos, o que afetou os reservatórios das hidrelétricas e gerou incertezas sobre o fornecimento de energia elétrica. O cenário levou a adoção de medidas como o acionamento de termelétricas mais caras e poluentes.
Atualmente os consumidores pagam a bandeira escassez hídrica, no valor de R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos para cobrir os parte dos custos com a geração termelétrica que tiveram de entrar em operação. Entretanto, a partir do dia 16 de abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adotará a bandeira verde na conta de luz para todos os consumidores.
O governo afirma que a conta de luz do brasileiro terá redução de cerca de 20% no próximo mês. Entretanto, especialistas dizem que o alívio será menor que o prometido pelo presidente Jair Bolsonaro e não deve durar muito. Nos cálculos do professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, a redução será de 6%.
O acadêmico afirma que o Brasil terá uma situação confortável na oferta de energia sem a necessidade de operar com bandeiras tarifárias com cobrança extra, porém há outros custos que devem pesar na conta do consumidor.
“Como sabemos, a tarifa é composta por outras rubricas. Por exemplo, nós vamos pagar o empréstimo das distribuidoras [previsto em R$ 10,5 bilhões], porque a bandeira [escassez hídrica] foi insuficiente para cobrir o custo da geração térmica tão cara. O importante é não criar a ilusão de que vai baixar, que está descendo a ladeira e que o preço vai desabar. Vamos baixar e ficar neste patamar correndo o risco de aumento porque estamos sem bandeira e o que consumimos agora é de renovável, mas há outras rubricas que se impõem sobre a tarifa”, alerta Castro.
O ONS prevê o despacho apenas de usinas na ordem de mérito, ou seja, aquelas que são inflexíveis, sem a necessidade de acionar outras usinas. A expectativa é que o Brasil tenha até 6 mil MW de térmicas durante o ano. No auge da crise hídrica, mais de 20 mil MW de térmicas foram acionados.
Sobre a contratação emergencial de térmicas feitas no ano passado até 2025 e que agora não são mais necessárias por causa da melhora na hidrologia, o executivo defendeu a manutenção dos contratos e conta com o acionamento dessas usinas durante o ano. “Preservar o arcabouço jurídico é muito importante, isso traz confiança e estabilidade”, apontou.
Segundo Ciocchi, a expectativa é que o custo da entrada destas unidades não seja expressivo e não tenha um custo significativo para o consumidor. O ano de 2023 deve ser mais tranquilo do ponto de vista de estrutura para o abastecimento, já que grandes blocos de energia eólica e solar devem entrar em operação. No entanto ainda é difícil prever a situação dos reservatórios.
“Olhar para 2023 é usar bola de cristal, ainda não dá para dizer muita coisa. O que podemos dizer é que tem muita geração nova entrando, muita linha de transmissão, então do ponto de vista de infraestrutura, é possível dizer que estaremos melhor do que neste ano”, disse.
Fonte: Valor Econômico
