Por Augusto Decker, Matheus Prado, Gabriel Roca, Arthur Cagliari e Maria Fernanda Salinet — De São Paulo
01/02/2024 05h01 Atualizado há 4 horas
Os ativos locais e internacionais tiveram reação cautelosa às declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, no pregão de ontem, praticamente descartando corte nos juros em março. Preocupações com um possível estresse no setor bancário americano também pesaram. Os negócios fecharam antes de o Banco Central informar sua decisão de juros no país.
Os juros futuros locais recuaram, mas se afastaram das mínimas do dia após Powell afirmar que um corte de taxas na reunião de março do Fed é “improvável”. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 oscilou de 9,695% para 9,66% e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 9,865% para 9,79%.
O rendimento dos Treasuries americanos apresentou forte queda, mesmo com a fala mais cautelosa de Powell, em razão de preocupações com o sistema bancário do país. O Flagstar Bank, banco regional americano, reportou prejuízo no quarto trimestre e reduziu seus dividendos para reforçar o capital após a compra dos ativos do falido Signature Bank. As ações do New York Community Bancorp (NYCB), controlador do Flagstar, fecharam em queda de 37,67%.
A taxa da T-note de 2 anos caiu para 4,209%, de 4,332% no ajuste anterior, enquanto o retorno da T-note de 10 anos recuou para 3,919%, de 4,034%. O dólar à vista encerrou a sessão em queda de 0,16%, cotado a R$ 4,9373.
Para Rogério Braga, gestor da Quantitas, Powell trouxe um tom benigno, com exceção da disposição de não cortar os juros já no próximo encontro.
Ainda que o corte de juros não venha a ocorrer nos próximos meses, ele está se desenhando no horizonte e isso, atrelado aos bons fundamentos da moeda, deve ajudar o real nesse primeiro semestre, segundo Braga.
“Temos uma balança comercial forte que deve se manter assim, com petróleo participando cada vez mais da nossa pauta de exportação. Se a flexibilização monetária nos Estados Unidos vier, o ambiente deve ficar melhor para o real”, afirma, acrescentando que o fiscal, caso se mantenha dentro das projeções do mercado, pode até gerar ruído, mas que depois vai se dissipar.
O Ibovespa também sentiu o efeito das falas do presidente do Fed. O principal índice da bolsa brasileira iniciou o pregão em alta expressiva, chegando a superar os 129 mil pontos na máxima do dia. Entretanto, a declaração do dirigente fez a referência local reduzir os ganhos, até fechar com avanço de 0,28%, aos 127.752 pontos.
O diretor de investimentos da Nau Capital, Mauricio Valadares, afirma que, como o mercado já tinha precificação agressiva de cortes de juros nos EUA, o comportamento conservador do Fed pode estender o movimento de correção dos ativos no curto prazo. Ele entende, por outro lado, que a decisão traz boas notícias em termos de cenário, já que o comitê explicitou que não deve mais subir juros e que o início do ciclo de flexibilização este ano já é praticamente consenso.
“Os preços dos ativos tiram a assimetria positiva do mercado, mas não anulam que o cenário ficará mais benigno à frente. O custo de oportunidade vai cair e isso ajuda, as oportunidades podem demorar um pouco mais para surgir”, diz.
As bolsas de Nova York sentiram com mais força o efeito das falas de Powell: o índice Dow Jones caiu 0,82%, o S&P 500 recuou 1,61%, e o Nasdaq perdeu 2,23%.
Fonte: Valor Econômico