Por Yoko Kubota, da Dow Jones Newswires, Valor — Pequim
21/06/2023 17h39 Atualizado há 12 horas
A confiança das empresas internacionais na China encontra-se em um patamar recorde de baixa, com a esperada recuperação da segunda maior economia do mundo não se concretizando e as relações de Pequim com seus maiores parceiros comerciais se deteriorando.
Quase dois terços dos participantes de uma pesquisa da Câmara de Comércio da União Europeia na China disseram que os negócios ficaram mais difíceis no ano passado, um aumento de 4 pontos porcentuais sobre o ano anterior e o menor crescimento desde que as pesquisas tiveram início. Onze por cento dos participantes disseram que transferiram investimentos para fora da China, ou tomaram essa decisão, segundo a pesquisa divulgada nesta quarta-feira (21). Outros 7% disseram estar pensando em fazer isso.
Os resultados mostram que a China tem muito a fazer para restabelecer a confiança, tanto política como economicamente.
Embora as empresas europeias não estejam correndo para sair e continuem comprometidas com a China, a queda na confiança sinaliza que “as partes interessadas na China deveriam se preocupar” com o rumo que as coisas estão tomando, diz Jens Eskelund, o presidente da Câmara do Comércio.
Os resultados da pesquisa da Câmara de Comércio da UE surgem dias após encontros entre líderes dos EUA e China e da Europa e China. Esta semana, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, encontrou-se com o presidente chinês, Xi Jinping, e outras autoridades em Pequim, enquanto o primeiro-ministro chinês, Le Qiang, visitou Alemanha e França.
Eskelund disse que a comunidade empresarial europeia ficou encorajada com os últimos compromissos diplomáticos.
A viagem de Blinken pareceu ter interrompido a espiral descendente nas relações bilaterais, mas questões espinhosas estão se acumulando novamente. Os planos de Pequim de construir um novo campo de treinamento militar em Cuba, segundo informou o “Wall Street Journal”, contribuíram para a inquietação de Washington com as ambições da China no Caribe e na América Latina.
Uma pesquisa divulgada em março pela Câmara do Comércio dos EUA mostrou que as empresas americanas estão mais pessimistas com suas perspectivas financeiras na China e um número menor de empresas americanas considera a China uma decisão de investimento importante.
Enquanto muitas companhias americanas identificaram as tensões com a China como um dos principais desafios para 2023, o maior desafio citado pelas companhias europeias foi a economia fraca da China.
Na pesquisa da Câmara Europeia, 36% dos participantes citaram a desaceleração econômica chinesa como um dos três principais desafios, juntamente com a fraqueza da economia mundial e as tensões nas relações comerciais EUA-China.
Dados recentes mostram que a antecipada revitalização da economia da China ao fim da estratégia de tolerância zero com a covid-19 não se sustentou. Uma desaceleração econômica que começou em abril continuou em maio. O crescimento das vendas no varejo desacelerou substancialmente em maio. Enquanto isso, o mercado imobiliário continua fraco e o desemprego entre os jovens, elevado.
Outro ponto citado na pesquisa foi as empresas precisarem ficar monitorando “cuidadosamente” a situação das sanções à China em razão das tensões com o Ocidente.
“As empresas europeias estão enfrentando crescente pressão política da China, da Europa e de outros atores, enquanto as demandas dos consumidores se tornam cada vez mais politizadas”, afirmaram os autores da pesquisa.
Com a economia perdendo força, os líderes chineses vêm se esforçando para promover o país como um lugar seguro aos investimentos externos. Empresas europeias também sentiram uma disposição maior do lado chinês de se empenhar, mas ainda aguardam medidas concretas, segundo Eskelund.
A China aprovou uma ampla atualização de uma lei antiespionagem que entrará em vigor em julho e reforçará o controle estatal sobre uma faixa mais ampla de dados e atividades digitais. As revisões abrangentes, mas vagas, da lei aumentam o risco de que comportamentos empresariais comuns possam ser interpretados ou deturpados como espionagem. “O que é um pouco frustrante é a ambiguidade do que é considerado segredo de Estado”, disse ele.
A revisão da lei foi o passo mais recente no aumento dos esforços de Pequim para proteger a segurança nacional, iniciados em 2014. Eskelund disse que a China vem enfatizando a segurança nacional em uma série de áreas que incluem alimentos, cibernética, finanças, energia e tecnologia – e essa tendência é preocupante.
A pesquisa foi realizada em fevereiro e março, com 570 dos cerca de 1,7 mil membros da Câmara do Comércio. A câmara não disse quantas das empresas participantes eram europeias. Nem todas perguntas foram respondidas por todos. (Com agência Bloomberg)
Fonte: Valor Econômico

