Por Valor — São Paulo
14/03/2024 19h18 Atualizado há 12 horas
Vladimir Putin chega praticamente como candidato presidencial único nas eleições que começam hoje e vão até domingo na Rússia apoiado na estratégia de concentração de poderes similar à de líderes da era czarista ou do período soviético. Mas sua popularidade reside também na percepção de muitos russos de que a economia, mesmo em tempo de guerra, está funcionado bem.
Dois anos após a invasão da Ucrânia e da imposição de sanções draconianas pelos EUA e seus aliados, os salários na Rússia subiram, o rublo se estabilizou e a pobreza e o desemprego baixaram a mínimos históricos. Para os trabalhadores com rendimentos mais baixos do país — um eleitorado fundamental para Putin alcançar seu quinto mandato — os salários nos últimos três trimestres aumentaram mais rapidamente do que para qualquer outro segmento da sociedade, registando uma taxa de crescimento anual de cerca de 20%, mostram os dados do Serviço Federal de Estatísticas.
De acordo com a último estudo do Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia, Putin tem 82% das intenções de voto. Nenhum entre os outros três candidatos — Leonid Slutsky, Nicolai Kharinonov e Vladislav Davankov — tem mais de 6% das preferências.
Durante o processo de inscrição eleitoral, o registro de cerca de 30 candidatos foi rejeitado pela autoridade eleitoral. E, em meio à campanha, em fevereiro, o mais conhecido adversário político de Putin, Alexander Navalny, morreu aos 47 anos enquanto cumpria pena numa prisão no Ártico.
Há poucas dúvidas entre os russos de que Putin agiu para eliminar — em muitos casos, fisicamente — a oposição, calou a mídia crítica, criminalizou a dissidência à guerra que lançou contra a Ucrânia, entre outras medidas de demonstração de força. Mas o descontentamento público em relação à economia, entre a maior parte da população russa, não existe.
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Embora a guerra na Ucrânia tenha deixado centenas de milhares de mortos ou feridos e os desafios de longo prazo continuem a aumentar — com as autoridades ainda lutando contra uma inflação acima da meta —, Putin exibe os resultados da economia como trunfo eleitoral.
“A Rússia chega às eleições com a economia em boa forma”, disse Sofya Donets, economista da Renaissance Capital, apontando para o sentimento “muito otimista” do consumidor e para as avaliações de economistas sobre a situação financeira atual e futura do país. “Essa avaliações apontam para níveis que em nada se assemelham a uma crise.”
Mas os riscos não estão totalmente afastados. A guerra na Ucrânia intensificou uma grave escassez de mão de obra, na medida que o recrutamento militar retira trabalhadores do mercado. Putin afirmou em fevereiro que as empresas russas tinham um déficit de 2,5 milhões de trabalhadores.
Se, por um lado, isso dá aos russos segurança no emprego em curto prazo, há uma grande e persistente fonte de preocupação econômica com a acelerada elevação dos preços. A inflação permanece acima da meta do Banco da Rússia, mesmo depois de este ter apertado significativamente a política monetária, sufocando a atividade de crédito no país. O índice de inflação em 12 meses subiu em fevereiro para 7,7% — tinha sido de 7,4% do mês anterior.
“A onda de gastos militares do governo não é gratuita — ela reduziu as receitas de exportação de gás e petróleo e diminuiu as reservas cambiais que a Rússia acumulou antes do início da guerra”, disse o economista russo Alex Isakov. “No curto prazo, a generosidade fiscal continuará a apoiar a elevada confiança dos consumidores, mas à medida que a Rússia esgota o que resta do seu Fundo Nacional de Riqueza, o governo enfrentará escolhas fiscais difíceis entre aceitar uma inflação mais elevada, cortar gastos ou aumentar impostos.”
As eleições presidenciais — que nas regiões mais remotas já começaram na quarta-feira — também têm como objetivo consolidar a soberania russa sobre territórios anexados e em disputa. Militares e moradores locais estão registrados para votar, por exemplo, nas regiões de Luhansk, Donetsk, Crimeia, Zaporizhia e Kherson — na Ucrânia — e na área separatista da Transnístria, que, com o apoio de Moscou, luta para se tornar independente da Moldávia.
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Fonte: Valor Econômico

