Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
23/09/2023 16h31 Atualizado há um dia
Uma casa de análise batizada como A Nova Research começa a colocar no mercado brasileiro a sua estratégia de pesquisa e recomendação de investimentos com uso de inteligência artificial. O desenvolvimento da tecnologia se alimenta de dados em tempo real para identificar o melhor momento para investir em determinados ativos. Os algoritmos buscam padrões e oportunidades a partir do fluxo de grandes investidores institucionais, em especial os estrangeiros.
“No nosso modelo de análise, a base de dados desconsidera informações decorrentes da política econômica, das relações políticas, e é pautada pela atuação dos participantes de maior poderio financeiro”, diz Paulo Martins, fundador e CEO da empresa de pesquisa. “Buscamos entender como os hedge funds, por exemplo, estão se posicionando. Se determinada notícia está sendo difundida e passou por vários grupos, a informação já está no preço de tela.”
O objetivo é rastrear o momento anterior, quando os grandes participantes do mercado estão na fase de acumulação de posições ou de desmonte, a etapa de distribuição dos ativos. “O processo de tomada de decisão dos algoritmos de alta frequência captura esse momento”, diz Martins, um publicitário que começou sua jornada na bolsa entre 2015 e 2016, a partir dos estudos de Richard Wyckoff, que na chamada época de ouro da análise técnica, nos anos de 1900, começou a escrever sobre a lógica da manipulação de mercado baseada em preços e volumes na sua “The Wall Street Magazine”.
Em vez de olhar para os padrões da natureza como os grafistas tradicionais, o operador voltava-se ao comportamento do próprio mercado. Em 1930, ele deixou seu relato em “Wall Street Ventures & Adventures Through Forty Years” e publicou uma série de cursos.
“Não comecei pela análise fundamentalista ou pela técnica clássica, mas da percepção que o jogo de liquidez de mercado refletia a atuação de diversos grupos, e fui buscar as ferramentas para identificar os ciclos”, diz Martins. “O que a gente tenta é rastrear o comportamento dos algoritmos que montam posições para grandes fundos de investimentos, como gestoras de fortunas e assets globais.”
O período de “treino” foi entre 2018 e 2019, auxiliando um médico conhecido da família que tinha começado a investir na bolsa, com cerca de R$ 1 milhão. A ferramenta foi estendida para outros investidores com perfil de private banking e depois ganhou exposição numa plataforma de informações financeiras. No canal, ele chegou a dizer que algumas ações, a exemplo de Magazine Luiza, contemplavam riscos inaceitáveis naquele momento. Marcopolo foi um papel que, segundo Martins, a ferramenta conseguiu capturar a onda compradora, que depois se confirmaria nas posições de grandes fundos.
Agora, estruturada como casa de pesquisa de fato, com registro na Apimec e um desenvolvedor e analista CNPI responsável perante a regulação e a autorregulação, A Nova Research está ligando outras pontas do negócio. Fechou acordo com a Krone Capital, assessoria de investimentos da rede XP, com cerca de R$ 500 milhões na custódia da plataforma, e com a Ivest, consultoria e gestora de patrimônio que, neste braço, vai ser a executora da estratégia via carteiras administradas.
Nesta parceria, o “multi family office” sai da inteligência de alocação ativa para a passiva, o cliente assina o plano de investimentos, definindo parâmetros de exposição e alavancagem, afirma o fundador da Ivest Caio Fernandez, que fez carreira em estruturas de private banking e de trading no Safra, XP e Itaú Unibanco. “Eu me comprometo a executar em tempo real dentro da estratégia combinada.” A gestora tem R$ 600 milhões sob aconselhamento no Brasil e outros US$ 200 milhões no exterior, na gestão discricionária ou no modelo de consultoria. No acordo com A Nova Research, está abrindo uma nova frente de atuação.
Fernandez explica que cada investidor tem a sua carteira e as transações são concretizadas numa operação master, com o mesmo preço para todos os clientes. “Não há risco de ‘front running’ [a prática de um intermediário correr na frente e comprar ou vender os ativos que a estratégia recomenda].” A casa tem liberdade para atuar com qualquer banco ou corretora, mas hoje a custódia está centralizada no BTG Pactual, diz o gestor.
Já a Krone entra na ponta de distribuição, procurando se posicionar como butique de investimentos, diz Mario Alves, sócio fundador da assessoria. O grupo ainda tem áreas de planejamento financeiro e patrimonial. Para o executivo, o apelo da Nova Research é não se basear em metodologias de preço justo de ações, mas com momentos de entrada e saída. “Isso ajuda a escolher uma carteira com as ações mais promissoras para prazos não tão longos, de seis meses. Na Krone, a renda variável deixou de ser uma estratégia de longo prazo que tem que esperar o caso maturar.”
Martins conta que a ambição é que outros escritórios de assessorias de investimentos independentes representem a marca da casa de análise, a fim de ganhar capilaridade, em vez de estar em marketplaces de pesquisa e recomendação de ativos que vêm sendo fomentados por plataformas como a XP. O empreendedor calcula que, somando o canal direto e o B2B, A Nova Research tenha clientes com R$ 700 milhões de patrimônio. O potencial é atingir a casa dos bilhões.
O foco inicial são ações de alta liquidez, mas a ideia é abarcar outras classes de ativos ao longo do tempo. Na carteira executada pela Ivest, a taxa de administração é de 1% ao ano, com 15% de performance sobre o que exceder o Ibovespa.
Fonte: Valor Econômico

