Por Fernanda Pressinott, José Florentino e Paulo Santos, Valor — São Paulo
31/10/2022 16h56 Atualizado há 14 horas
Como já era esperado, a decisão russa de extinguir o corredor de exportação de grãos da Ucrânia pelo Mar Negro deu forte impulso aos preços do trigo na bolsa de Chicago nesta segunda-feira.
Os contratos que vencem em dezembro, os mais de maior liquidez, subiram 6,39%, a US$ 8,8225 por bushel. Os papéis de segunda posição de entrega, para março do ano que vem, por sua vez, fecharam em alta de 5,92%, a US$ 8,9925 por bushel.
Ao explicar as razões para a suspensão do acordo com a Ucrânia, o Ministério da Defesa russo citou o ataque feito com drones contra navios russos no Mar Negro. Mas a Ucrânia negou a ação, e disse que foram armas russas as responsáveis pelo ataque.
O governo de Vladimir Putin já vinha criticando o embarque de grãos ucranianos pela rota considerada segura. Segundo as autoridades russas, mais da metade das mercadorias que saíram dos portos da Ucrânia desde que o país assinou acordo, em julho, tiveram países do ocidente, sobretudo da Europa, como destino, e apenas 3% das cargas agrícolas tiveram como destino países mais pobres.
“O mercado vai digerir nos próximos dias a decisão da Rússia, mas um movimento de alta se justifica pela parte fundamental. A oferta está mais ajustada neste momento e a safra do Hemisfério Norte já foi disponibilizada, então agora compradores vão buscar alternativas”, destaca Élcio Bento, analista da Safras & Mercado.
Apesar das declarações russas e do movimento dos preços em Chicago, a Dow Jones relata que navios ainda estavam entrando e saindo dos portos do Mar Negro. O Centro de Coordenação Conjunta, que monitora o funcionamento do corredor seguro, disse que autoridades turcas, ucranianas e da ONU concordaram com um plano para liberar 16 navios nesta segunda-feira.
Para o analista da Safras & Mercado, no entanto, a liberação parcial dos navios pode não ser suficiente para limitar as altas nas cotações do trigo em Chicago.
“Pode ser que daqui para frente os preços se acomodem na casa dos 9 US$ por bushel. Isso é bem factível, pois estima-se que a Ucrânia tenha 13 milhões de toneladas de trigo para exportar e, sem o corredor de grãos, não conseguirá escoar esse volume. O mercado tem tudo para retomar uma tendência de alta nos preços, que estava sendo observada em agosto deste ano, mas sem ficar muito acima de US$ 10 por bushel, pois a guerra já está precificada”, ressaltou o analista.
Milho
O milho também subiu na bolsa de Chicago nesta segunda-feira, também por causa da perspectiva de fim do corredor. Os contratos para dezembro subiram 1,58%, a US$ 6,915 por bushel, e os papéis para março do ano que vem avançaram 1,46%, a US$ 6,9675 por bushel.
“Em princípio, tanto a Ucrânia quanto a ONU e a Turquia cuidarão para que os navios em trânsito cumpram suas rotas, mas não está claro o que as seguradoras de navios farão, dada a incerteza atual”, diz a consultoria Granar, em nota.
Em parte, o preço do milho subiu menos que o do trigo porque as vendas americanas recuaram na última semana.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou hoje que as exportações americanas somaram 422,3 mil toneladas na semana encerrada em 27 de outubro, 10,6% a menos do que o volume exportado na semana anterior. No acumulado deste ciclo 2022/23, os EUA exportaram 4,2 milhões, bem abaixo das 5,5 milhões de toneladas de um ano atrás.
Soja
No mercado da soja, os papéis para janeiro do ano que vem, os de maior liquidez, subiram 1,37%, a US$ 14,1950 por bushel.
O dólar caiu um pouco em relação a outras moedas, o que ofereceu algum suporte às cotações em Chicago.
As exportações americanas de soja somaram 2,6 milhões de toneladas na semana encerrada em 27 de outubro, informou o USDA. O total é 12% inferior ao volume exportado na semana anterior.
Além disso, o plantio da safra brasileira, que até duas semanas caminhava bem, agora está atrasado. Segundo a Agrural, o plantio da oleaginosa chegou a 46% da área estimada para 2022/23. O número representa avanço de 12 pontos percentuais sobre os 34% de uma semana antes, mas indica atraso na comparação com os 52% do mesmo período do ano passado.
Fonte: Valor Econômico

