Por Matheus Schuch — De Brasília
05/04/2023 05h01 Atualizado há 4 horas
O preço das commodities em patamar menor, as taxas de juros mais altas nos países desenvolvidos e a recuperação instável da China podem piorar as perspectivas das economias da América Latina, em especial do Brasil, e do Caribe, disse ontem o Banco Mundial, na divulgação de seu relatório semestral.
A instituição avalia que a região “tem se mostrado relativamente resiliente diante do aumento do estresse da dívida, da inflação e do aumento da incerteza global”.
Para impulsionar o crescimento, o Banco Mundial avalia que será fundamental aproveitar as oportunidades de aproximação da cadeia produtiva dos mercados domésticos, além da indústria verde.
O relatório “O Potencial da Integração, Oportunidades Numa Economia Global em Transformação” estima que o PIB regional crescerá 1,4% em 2023, a taxa global mais baixa. Taxas de 2,4% são esperadas para 2024 e 2025 nos países de América Latina e Caribe, consideradas muito baixas para alcançar progressos significativos na redução da pobreza.
“A região se recuperou em grande parte da crise da pandemia, mas infelizmente voltou aos baixos níveis de crescimento da década anterior”, afirma Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. “Os países precisam urgentemente acelerar o crescimento inclusivo para que todos se beneficiem do desenvolvimento, e isso exigirá manter a estabilidade macroeconômica e aproveitar as oportunidades que a integração comercial oferece hoje.”
William Maloney, economista-chefe para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial, opinou que Brasil e Chile já podem deixar de aumentar as taxas de juros, pois há nos dois países queda na expectativa de inflação. A necessidade de aumentar o custo de crédito para controlar o aumento de preços, reforçou, teve peso relevante no baixo crescimento pós-pandemia.
Mas a região, segundo análise do Banco Mundial, administrou com relativo sucesso as múltiplas crises causadas pela guerra da Rússia contra a Ucrânia e pelas incertezas da economia global, com níveis de pobreza e emprego pré-pandêmicos. Já a inflação média, à exceção da Argentina, deve cair para 5 % em 2023, depois de atingir 7,9 % em 2022.
De acordo com o relatório, a resiliência da região em geral advém do progresso duramente conquistado na gestão macroeconômica durante as últimas duas décadas. No entanto, em média, o desequilíbrio fiscal permanece elevado, projetado para 2,7% do PIB em 2023, corroendo ainda mais o espaço fiscal já apertado, e estima-se que os níveis de dívida atinjam 64,7% do PIB neste ano, um pouco abaixo de 66,3% em 2022.
Além disso, as recentes falências de bancos nos EUA e na Europa trazem mais incertezas. Ainda veremos as consequências no sistema bancário e fluxo de capital na América Latina, diz o texto.
O relatório sugere políticas públicas para avanço da integração que países devem considerar para aproveitar essas oportunidades. Isso inclui políticas de longo prazo, como redução de riscos sistêmicos, aumento de investimentos em infraestrutura tradicional e digital e melhoria do capital humano, além de opções de curto prazo, como preservar a estabilidade geral, ao promover avanços regulatórios alfandegários e de transporte e modernizar agências de exportação e promoção de investimentos.
Fonte: Valor Econômico
