Por Matheus Prado, Augusto Decker, Gabriel Roca e Igor Sodré — De São Paulo
31/08/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
As quedas registradas pelo petróleo e pelo minério de ferro na sessão de ontem, conforme investidores buscam se adaptar à perspectiva de maior aperto monetário nos EUA e desaceleração econômica na China, determinaram a performance negativa dos ativos locais no pregão e levaram o Ibovespa de volta aos 110 mil pontos.
O índice acionário local cedeu 1,68%, aos 110.430 pontos, enquanto o dólar comercial encerrou o pregão em alta firme de 1,59% ante o real, a R$ 5,1128. Já o Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 recuou de 13,19% para 13,10% no fechamento regular, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2027 teve ligeira queda, de 11,885% para 11,875%.
Em um cenário em que os ativos de risco globais já estavam pressionados, a divulgação de dados econômicos melhores do que o esperado nos EUA e a manutenção dos discursos “hawkish” (favoráveis ao aperto monetário) por membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deram força a um movimento de correção do petróleo, com reflexos domésticos.
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O contrato do petróleo Brent (referência global da commodity) para novembro fechou em queda de 4,94%, a US$ 97,84 por barril. Além do cenário econômico, que sugere ainda haver espaço para o Fed continuar a subir juros, uma possível estabilização da oferta do produto conforme EUA e Irã costuram um acordo também derrubou as cotações.
Com isso, Petrobras ON e PN cederam 5,64% e 5,95%, respectivamente, mas acumulam altas de quase 70% no ano. Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual, entende que, apesar da volatilidade elevada, a tendência segue altista para o setor, principalmente quando se analisam os baixos investimentos e a possível crise energética que pode impactar o hemisfério norte, principalmente a Europa, no inverno.
Já o Itaú BBA, em relatório, cortou a recomendação de Petrobras de compra para neutro, e o preço-alvo das ações preferenciais, de R$ 43 para R$ 38. Os analistas Monique Greco, Bruna Amorim e Eric de Mello escrevem que a ação teve valorização de 57% em dois meses, impulsionada pelo pagamento de dividendos, mas que desde então as perspectivas para a empresa se reduziram.
O banco destaca que a Petrobras antecipou o pagamento de dividendos após pedido do governo federal, reduzindo o rendimento para o restante do ano, e a acomodação do preço do petróleo deve reduzir o desempenho financeiro da empresa. Eles atualizaram estimativas para a companhia, incorporando um maior custo de capital em meio à alta dos juros, os reajustes recentes na gasolina e no diesel e os pagamentos de dividendos recentes.
Entre as commodities metálicas, a China, que pode ter mais restrições ao movimento de pessoas para combater o aumento de casos da covid-19, segue pressionando os preços. Além disso, uma gigante do setor imobiliário chinês teve queda de 96% nos lucros do primeiro semestre, o que piora a perspectiva para a construção civil no país.
Com isso, o futuro do minério de ferro fechou em queda de 5,01%, a aproximadamente US$ 98 a tonelada, na bolsa de Dalian, e puxou as empresas correlatas para baixo. CSN ON caiu 3,17%, Usiminas PNA perdeu 2,07%, Gerdau PN recuou 1,75% e Vale ON cedeu 2,9%. No ano, a mineradora, que é a empresa mais representativa do Ibovespa, acumula queda de 9,28%.
“O caso das metálicas é mais estrutural”, diz Zanlorenzi. “Os estímulos da China, muito esperados pelo mercado, não surtiram efeito. E, com a economia em constante fechamento por conta da política de covid zero, é como se o governo estivesse abastecendo um carro que está com o freio de mão puxado. Além disso, o discurso mais duro do Fed também diminui a expectativa de consumo dos EUA. Então, temos uma queda dos produtos e da demanda, o que não é positivo para as empresas do setor.”
No câmbio, além do clima de aversão a risco nos mercados globais, os negócios começaram a refletir as disputas pela formação da Ptax de fim de mês, que ocorre hoje. O cenário político seguiu no radar, diante das campanhas e dos debates eleitorais recentes. “Os candidatos à Presidência continuam listando muitos gastos permanentes sem mencionar a origem dos recursos”, apontou o diretor de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.
Fonte: Valor Econômico