A carta oficial do grupo de engajamento para ciência do G20, concluída nesta terça (2), será apresentada para os negociadores do fórum econômico na quinta (4)
PorVictoria Netto , Valor — Rio
O grupo de engajamento para ciência do G20, liderado neste ano pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), concluiu nesta terça-feira (2) a carta oficial com as recomendações que serão apresentadas para os negociadores do fórum econômico na quinta-feira (4). O documento precisa ser assinado pelos países-membros até o dia 19.
O comunicado de cinco páginas traz propostas relacionadas a cinco eixos: Inteligência Artificial, Bioeconomia, Processo de Transição Energética, Desafios de Saúde e Justiça Social. As sugestões estão relacionadas à agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, de 2015, que reconhece a erradicação da pobreza até 2030 como o maior desafio global.
“Em vez de trazer novos temas, pensamos em resgatar os ODS’s que têm como mote não deixar ninguém para trás. Se conseguirmos atingir esses objetivos até 2030, teremos o mundo ideal”, afirmou a presidente da ABC, Helena Nader, que lidera o S20 durante a presidência rotativa do Brasil no G20.
Nader disse que deve encaminhar, ainda nesta noite, o documento para a liderança do país na Trilha de Sherpas (negociadores). Ontem, o embaixador Maurício Lyrio, sherpa do Brasil responsável pelas negociações no Grupo dos 20, participou do primeiro dia de negociações da cúpula de ciência e disse ter boas expectativas sobre as recomendações do grupo.
“Espero que parte das recomendações que formam a essência da declaração do Science 20 (S20) estejam presentes na declaração final”, reforçou Nader. Neste ano, os 13 grupos de engajamento do G20 terão uma contribuição inédita, com as recomendações encaminhadas com antecedência para que sejam analisadas a tempo da Cúpula dos Líderes, em novembro, no Rio.
A primeira reunião do grupo de ciência ocorrreu em março deste ano, também no Rio. Nader destacou que, nos últimos meses, o Brasil endereçou um esforço ativo para escutar todos os países-membros, representados no S20 pelas respectivas academias de ciência ou equivalentes. Estiveram presentes, nas negociações de ontem e hoje, 18 países mais a União Europeia (UE). A Rússia foi o único país que não compareceu, devido às tensões geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia.
“Esse documento não foi fácil, precisou passar por diversos ajustes para que tenha as assinaturas de todos”, disse Nader. “Percebi que tivemos uma contribuição muito importante da China, por conta da proximidade do BRICS, e o mesmo com a África do Sul”, completou.
Nader reforçou, ainda, que o Grupo dos 20 é heterogêneo, com diferenças não só culturais, sociais e linguísticas, mas também de densidade populacional, pirâmide etária e de renda. “O G20 pode ser a voz do Sul Global”, ressaltou.
Justiça Social, Bioeconomia e Transição Energética
O tema da justiça social apareceu não só na força-tarefa que tratou do tema, mas também atravessou todas as outras quatro que compõem o comunicado do S20. Para Helena Nader, a ciência é a principal ferramenta para promover equidade.
“A ciência é que vai promover justiça social. A inteligência artificial, por exemplo, pode gerar mais desigualdades. Temos o direito da criança à vacina, o acesso à energia, a seneamento e à água potável”, pontuou Nader.
Na carta oficial, o grupo destaca que as sociedades podem criar um futuro mais equitativo e sustentável por meio da inovação tecnológica. “Através da integração do conhecimento científico, das inovações tecnológicas e das estratégias de desenvolvimento, podemos abordar as causas profundas da pobreza e da exclusão, abrindo caminho para um mundo onde todos possam prosperar e contribuir para a melhoria da humanidade”, diz o texto.
No eixo de bioeconomia, o grupo observa que os modelos deste mercado devem ter como objetivo conservar e proteger os recursos naturais e apoiar os esforços de restauração, adotar tecnologias adequadas e adaptadas a cada bioma, e envolver as comunidades indígenas e locais, protegendo o conhecimento tradicional.
Nesse sentido, o grupo traz três recomendações: que os países apoiem pesquisas de ponta para aprimorar inovações em matérias-primas biogênicas, bioenergia e outros materiais; promovam modelos bioeconômicos sustentáveis e inclusivos, centrados no retorno e no crescimento econômico regional; e que construam cooperação internacional e multilateral robusta.
Na força-tarefa de transição energética, a declaração afirma que o movimento de descarbonização deve incluir, no aspecto social, a criação de empregos e o acesso equitativo à energia. O grupo também destaca que os processos completos de reciclagem de materiais utilizados em sistemas de energia renovável devem ser implementados para soluções energéticas sustentáveis.
As recomendações detalham também quais as fontes energéticas que devem ser consideradas no processo de descarbonização. Entre elas, estão a energia solar, eólica, hidrelétrica, geotérmica e biocombustíveis. Além disso, o grupo considera que a energia nuclear deve compor os esforços para a redução de emissões. O S20 também psugere que a captura de carbono deve ser usada como ferramenta para reduzir as emissões de CO2.
Cooperação é central em Saúde e IA
Entre as 10 recomendações do grupo sobre inteligência artificial está a sugestão para que o G20 trabalhe em conjunto para criar “bancos de dados científicos grandes, valiosos e bem selecionados”.
O comunicado também prevê o estabelecimento de quadros intergovernamentais para supervisionar as tecnologias de IA e defende a educação da população para a tomada de decisões informadas sobre o assunto.
Além disso, inclui uma diretriz para a criação de políticas que protejam os trabalhadores numa economia impulsionada pela IA e recomenda que a nova tecnologia possa contribuir para os objetivos de desenvolvimento sustentável dos países.
No pilar de saúde, o S20 apresenta como prioridades para o G20 garantir o acesso global a vacinas, medicamentos e ferramentas de diagnóstico essenciais para todos. Além disso, o grupo de ciência recomenda que os países do G20 devem promover a produção local e regional sustentável através do reforço da capacidade de investigação, da partilha de conhecimentos e da transferência de tecnologia.
O grupo também recomenda que os países priorizem os cuidados com saúde mental, “especialmente para grupos jovens e vulneráveis”, e que o G20 possa integrar as questões das alterações climáticas em todas as principais áreas prioritárias do Grupo de Trabalho da Saúde. Mais recente Próxima Rodízio de veículos é suspenso em São Paulo nesta quarta por causa de greve de ônibus
Fonte: Valor Econômico