O fluxo cambial chega ao fim de 2025 pressionado, e caminha para 2026 dependendo de fatores sazonais e externos para ganhar tração nos primeiros meses do novo ano. Analistas apontam que dezembro deve registrar nova pressão vendedora por causa do volume típico de remessas corporativas, enquanto o começo do ano pode apresentar melhora com o avanço das exportações. Ainda assim, riscos ligados ao ambiente fiscal, ao cenário eleitoral e às oscilações do apetite por risco global devem continuar influenciando a dinâmica do câmbio no curto prazo.
Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, lembra que o mês de dezembro concentra a maior parte das remessas de lucros e juros ao exterior, o que tende a levar o fluxo a terreno negativo. Thiago Azevedo, sócio-fundador da Guardian Capital, acrescenta que, historicamente, dezembro apresenta desvalorização média de 0,4%, favorecendo quem precisa enviar recursos ao exterior. Ainda assim, ele pondera que fatores como balança comercial, fluxos de capital e conflitos geopolíticos podem alterar o comportamento típico.
Para 2026, o panorama combina oportunidade e incerteza. A StoneX espera melhora no fluxo nos primeiros meses do ano, impulsionada pelas exportações agrícolas, em especial a soja. No entanto, o ciclo eleitoral pode introduzir volatilidade adicional.
“Caso exista alguma tendência definida para as operações cambiais por conta de receios ou de uma antecipação dos resultados da eleição presidencial, é possível que essa tendência se intensifique com a aproximação da data do pleito”, afirma Mattos.
A leitura da Guardian também é de cautela. Mesmo com um início de ano historicamente mais favorável, a direção do câmbio dependerá do comportamento do mercado internacional, do diferencial de juros, da evolução fiscal e do próprio humor dos investidores estrangeiros. “Deve-se levar em consideração outros fatores além da sazonalidade”, diz Azevedo.
Com múltiplos aspectos simultâneos — saídas sazonais, balanço fiscal delicado, cenário externo instável e eleições se aproximando —, o consenso entre os especialistas é de que o mercado de câmbio inicia o próximo ano em um ambiente que combina algum potencial de melhora com riscos relevantes no horizonte.
Fluxo cambial em novembro foi segundo pior da série histórica
O pano de fundo dessa transição é o resultado de novembro, quando o fluxo cambial registrou déficit de US$ 7,1 bilhões, o segundo pior da série histórica para o mês. O saldo negativo foi formado por uma entrada comercial praticamente nula e por forte saída na conta financeira. “O saldo do fluxo cambial de novembro de 2025 foi o segundo pior já registrado para o mês, ganhando apenas de novembro de 2008”.
Segundo relatório do Itaú BBA, o comercial voltou a mostrar entradas reduzidas, enquanto o financeiro retomou o padrão negativo após dois meses mais benignos. Com isso, o acumulado do ano passou a US$ -19,8 bilhões, revertendo o superávit de US$ 8,4 bilhões registrado no mesmo período de 2024.
Embora novembro não apresente uma sazonalidade clara — entre 2015 e 2025, foram seis déficits e cinco superávits — a magnitude do resultado deste ano destoou do padrão recente. A média entre 2020 e 2024 foi de US$ -0,5 bilhão, contra o rombo superior a US$ 7 bilhões observado em 2025. A composição do fluxo cambial ao longo do mês ajuda a entender parte da deterioração.
Do lado das exportações, houve uma aceleração apenas na segunda metade de novembro. Mattos aponta que a média diária de vendas externas subiu de US$ 822 milhões entre os dias 3 e 14 para US$ 1,173 bilhão entre 17 e 28. Apesar disso, o saldo comercial acumulado no ano segue 37,5% inferior ao de igual período de 2024. Já as importações permaneceram em patamar elevado, embora em moderação: os contratos somaram US$ 18,7 bilhões, cerca de 5% abaixo de novembro do ano passado, com destaque para o avanço de 5,8% na indústria de transformação.
O comportamento da conta financeira permanece como o ponto de maior pressão. A StoneX relata que, desde a mudança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em maio, há um volume um pouco menor de operações para o exterior, tendência que se manteve em novembro. Mesmo assim, o mês registrou “mais remessas financeiras de entrada que o habitual”. Ao mesmo tempo, houve retomada da demanda por instrumentos de proteção.
“Houve bastante procura por hedge cambial em novembro”, afirma Mattos, citando tanto a preparação para o tradicional volume de saídas de dezembro quanto a preocupação com “problemas fiscais domésticos e incertezas na política comercial americana”.
A dinâmica internacional também pesou de forma significativa. Segundo o analista da StoneX, a primeira metade do mês foi marcada por receios sobre uma possível sobrevalorização das grandes empresas de tecnologia nos EUA e pela percepção de que o Federal Reserve poderia manter os juros estáveis. A aversão a risco deu lugar a algum alívio na segunda quinzena, com o aumento das apostas em um corte de 0,25 ponto percentual pelo Fed em dezembro. A oscilação do apetite global por risco acabou se refletindo nos fluxos para países emergentes, incluindo o Brasil.
No câmbio à vista, porém, o impacto foi limitado. “O dólar começou o mês de novembro a R$ 5,38 e terminou o mês de novembro fechando em R$ 5,35 no dia 1º de dezembro, uma diferença muito pequena e inconclusiva. Não é possível tirar grandes conclusões de um movimento tão pequeno”, observa. Para Azevedo, o comportamento discreto da moeda está em linha com a sazonalidade histórica. “No geral, novembro costuma ser um mês bastante neutro, com uma probabilidade de alta do dólar histórica de 50%”, afirma.
Fonte: Capital Aberto