O presidente da Ucrânia, Volodimyr Zelensky, não conseguiu garantir novos pacotes de ajuda dos EUA e agora volta sua atenção para a Europa, aumentando os esforços para convencer os líderes europeus a manter o auxílio a Kiev no enfrentamento contra a Rússia.
A ajuda financeira da União Europeia (UE), embora menos visível do que as armas e munições, não é menos vital para a sobrevivência da Ucrânia. A UE forneceu a Kiev bilhões de euros em financiamento que permitiu ao país manter o funcionamento de hospitais, escolas e centrais elétricas, além de pagar benefícios aos veteranos e reconstruir casas.
Diante do impasse americano, as atenções ucranianas se voltam a UE, que começou nessa quinta-feira (14) uma cúpula de líderes para discutir um orçamento de quatro anos avaliado em mais de US$ 54 bilhões.
Não muito tempo atrás, a reunião foi encarada como oportunidade para a UE consolidar o compromisso de longo prazo com a Ucrânia, não só concordando com pacote de ajuda financeira de mais de um ano, mas também convidando formalmente Kiev a iniciar negociações para se tornar membro do bloco europeu. Os dois temas agora estão em cheque.
Zelensky propôs comparecer pessoalmente à cúpula para defender sua posição. Os organizadores decidiram na quarta (13) que ele não deveria comparecer, depois de vários líderes, incluindo o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, terem dito que a presença do presidente ucraniano poderia não ser útil para os objetivos do país, segundo diplomatas ucranianos e da UE.
Em uma vídeochamada com líderes europeus nessa quinta-feira, Zelensky disse que as decisões da UE sobre a Ucrânia esta semana ficarão na história do país – sejam elas positivas ou negativas.
“A Europa tomou decisões fortes e as implementou de forma eficaz”, disse ele aos líderes. “E é muito importante que a Europa não caia hoje na indecisão. Ninguém quer que a Europa seja vista como indigna de confiança.”
As divergências na UE, que ecoam disputas internas semelhantes em Washington, estão trazendo dúvidas sobre a durabilidade dos compromissos ocidentais com a Ucrânia. Os líderes dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) disseram desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, no início de 2022, que apoiariam Kiev durante o tempo que fosse necessário para vencer a guerra.
Mensagem a Vladimir Putin
Mas as forças ucranianas estão agora sofrendo com quantidades cada vez menores de munições, equipamentos e outros itens cruciais, enquanto as perspectivas financeiras do governo se tornam incertas. As dúvidas sobre se Europa e EUA continuarão com a ajuda a Kiev estão minando a mensagem que as capitais ocidentais insistem que precisam enviar ao Kremlin: vamos continuar a apoiar a Ucrânia indefinidamente, por isso Vladimir Putin deveria procurar a paz agora.
“À medida que a guerra se arrasta, devemos apoiar a Ucrânia durante o tempo que for necessário”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nessa quinta-feira.
Ela afirmou que a Ucrânia precisa de financiamento estável nos próximos anos “para que possa ser mais forte amanhã, quando estiver negociando uma paz justa e duradoura”.
No centro da disputa para o envio de mais recursos da UE está o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que se opôs diversas vezes às propostas da UE de iniciar o processo de adesão da Ucrânia ao bloco.
O líder húngaro mantém uma relação cordial com Putin, se opõe às sanções ocidentais contra a Rússia, bloqueou o apoio militar ocidental à Ucrânia e criticou a Ucrânia, causando desconforto entre pares do bloco europeu.
O déficit orçamentário esperado da Ucrânia para 2024 é de cerca de US$ 43 bilhões, e a ajuda externa é crucial para cobrir essa lacuna, uma vez que a guerra devastou a economia local. Até agora, a UE tem coberto mais da metade do déficit orçamentário anual da Ucrânia durante a guerra, incluindo mais de US$ 19 bilhões, em assistência financeira neste ano.
Corrida para evitar falência da Ucrânia
O pacote de quatro anos foi concebido para dar à Ucrânia e aos potenciais investidores a confiança de que o país pode evitar a falência nos próximos anos.
As autoridades europeias tentaram manter as disputas internas à porta fechada. Macron recebeu Orbán em Paris na semana passada, procurando um compromisso com a Ucrânia. Zelensky tentou conversar com Orbán durante a posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei, no último domingo (10), um diálogo que foi gravado, mas sem som audível.
“Eu não chamaria isso de negociação, mas ele tinha algo a me dizer e então aproveitamos a oportunidade para trocar palavras”, disse Orbán na quarta-feira.
Orbán, apesar de apoiar a decisão da UE no ano passado de tornar a Ucrânia um país candidato à adesão ao bloco, disse nas últimas semanas que o plano vai contra os interesses nacionais da Hungria.
Fonte: Valor Econômico
