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As cotações do barril do petróleo no primeiro semestre oscilaram entre uma equação que de um lado uniu oferta em expansão com demanda tímida e, de outro, tensões geopolíticas que trouxeram incerteza aos investidores. Ao fim do período, o arrefecimento do conflito entre Israel e Irã permitiu que prevalecesse no mercado de petróleo o efeito econômico de uma produção crescente e uma procura mais fraca. Com isso, o barril do tipo Brent fechou os seis primeiros meses do ano em queda de 10,1%, cotado a US$ 66,74, enquanto o WTI, referência nos Estados Unidos, caiu 10,39% no mesmo período, para US$ 63,85.
O analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, ressalta que os preços médios do petróleo entre janeiro e junho também ficaram abaixo das médias dos seis primeiros meses de 2024, refletindo oferta mais robusta e demanda global aquém do esperado. Do lado da oferta, ele lembra que a produção dos EUA permaneceu forte, enquanto parte da Opep+, organização que engloba os principais países exportadores e aliados, apresentou dificuldades no cumprimento dos cortes de produção propostos e as exportações russas seguiram firmes para a Ásia, contribuindo para estoques comerciais mais confortáveis.
Do lado da demanda, Arbetman destaca que o consumo cresceu em ritmo mais lento, pressionado pela atividade econômica fraca na Europa e por dados abaixo do previsto na China. “O resultado foi a redução do prêmio de escassez que sustentava preços mais altos em 2024, levando a um mercado mais equilibrado e preços médios mais baixos no comparativo anual”, explica o analista.
Ao longo do primeiro semestre houve três momentos em que o barril de petróleo teve picos de elevação. Em 15 de janeiro o Brent fechou cotado a US$ 80,66 e o WTI a US$ 78,71- maior fechamento dos seis primeiros meses do ano – devido a estoques menores que o esperado nos Estados Unidos. Depois de uma trajetória de queda que levou o preço para abaixo dos US$ 70, houve novo pico em 31 de março, quando ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra Rússia e Irã empurraram a cotação do Brent para US$ 74,77 e a do WTI para 70,95.
Quando o balanço entre oferta e demanda já se impunha, com o barril operando diversos meses abaixo dos US$ 70, a guerra entre Israel e Irã causou novo pico em 19 de junho, com o Brent a US$ 77,08 e o WTI a US$ 73,61.
Bruno Cordeiro, analista de inteligência de mercado da StoneX, ressalta que a demanda enfraquecida no primeiro semestre foi fruto principalmente da política tarifária adotada pelo governo dos Estados Unidos, que reduziu as expectativas de crescimento global. “Havia e há até o momento o entendimento de que essa nova medida aplicada pelos Estados Unidos pode gerar um desincentivo às atividades em diversos setores, influenciando também o consumo de petróleo e derivados”, diz.
O analista pondera que os fundamentos mostram um mercado de petróleo “superavitário” em termos de oferta, seja por intermédio de países da Opep+, seja por meio de produtores considerados secundários, como Brasil e Canadá. Ele explica que os países da Opep+ adotam este ano uma conduta diferente de anos anteriores, valorizando o aumento da fatia de mercado, mesmo que isso signifique preços menores. “Esse resultado superavitário ao longo do primeiro semestre acabou resultando numa ampliação dos estoques de petróleo em nível global”, afirma.
A expetativa para o comportamento das cotações do barril no segundo semestre parte da perspectiva de que a produção deve continuar a trajetória de crescimento. Em termos de demanda, Cordeiro lembra que o terceiro trimestre traz alta sazonal do consumo de combustíveis devido às férias de verão no Hemisfério Norte. “No terceiro trimestre esse crescimento sazonal entrega mais fôlego para os preços [do petróleo] e a partir do quarto trimestre há uma tendência de consumo menor.”
Apesar da tendência de cotações comportadas, Arbetman, da Ativa, diz que uma fonte de incerteza para o segundo semestre está no “equilíbrio frágil” da equação geopolítica. “Do cumprimento das metas de quotas por parte da OPEP+, que subiram na teoria, mas na prática não, às relações diplomáticas entre Estados Unidos e Irã. Tais fragilidades impedem preços [ainda] menores da commodity.”
Fonte: Valor Econômico
