Para tentar reverter parte dessa trajetória e oferecer oportunidades a jovens e adolescentes, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV DGPE), o Itaú Educação e Trabalho e o Instituto Unibanco lançam nesta quinta-feira o Laboratório de Inclusão Produtiva das Juventudes (LINC).
O objetivo é elaborar ações de mobilização e incentivo para o desenvolvimento de políticas públicas que tenham como foco preparar jovens de 14 a 29 anos para se inserirem com maior qualificação no mundo do trabalho. A ideia é que o LINC funcione como ferramenta de sistematização e fomento de políticas de inclusão socioprodutiva dos jovens junto aos Estados, especialmente os mais vulneráveis.
O laboratório terá como eixos comunicação e engajamento, mapeamento de boas práticas, formação de adolescentes e jovens, produção de conhecimento acadêmico sobre o tema, apoio técnico e monitoramento das políticas públicas, além de reconhecimento das melhores práticas, afirma Gustavo Heidrich Oliveira, coordenador da Um Milhão de Oportunidades (1MiO), iniciativa da Unicef no Brasil para inclusão de jovens no mercado de trabalho.
“Desde 2020, a 1MiO consiste em um ecossistema que tem como objetivo endereçar questões relacionadas à transição escola-trabalho e tratar dos jovens ‘sem-sem’, que não têm direito à educação e ao trabalho”, afirma.
“Há um diálogo com os governos municipais, estaduais e o federal, além de ONGs e empresas que geram oportunidade de trabalho para jovens, com o objetivo de se fomentar políticas públicas, programas de contratação e capacitação. Nosso foco é a formação profissional e o acesso à renda.”
Ao trabalhar com Estados em frentes como retenção dos jovens no ensino médio, preparação de currículo, e com secretarias como Juventude, Trabalho e Assistência Social, Oliveira sentiu que era necessário envolver outras frentes.
“Percebemos que precisávamos nos aliar a outros atores para ter mais efetividade nas políticas públicas. Nos unimos com o FGV DGPE para discutir colaborações em que pudéssemos dar apoio técnico, fazer boas práticas, certificar políticas estaduais”, conta.
“Começamos esse diálogo há um ano e meio, pelo qual construímos esse laboratório. Trouxemos conosco o Instituto Unibanco e o Itaú Educação e Trabalho, que lida com ensino técnico profissionalizante. O laboratório terá funções de apoio técnico, geração de evidência [por meio de pesquisa acadêmica], acompanhamento, monitoramento e certificação dessas políticas pela Unicef.”
Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, aponta o laboratório como oportunidade de oferecer melhores oportunidades a jovens, em um momento crucial da demografia brasileira.
Depois de se manter por quase duas décadas com pouco mais de 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, o Brasil pode chegar ao fim do século com metade desse total. Segundo dados do Centro de Políticas Sociais da FGV (FGV Social), do Atlas das Juventudes e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 o Brasil tinha mais pessoas com mais de 30 anos do que com menos. Além disso, números do Censo Demográfico mostram que o país está no fim do bônus demográfico.
“Uma razão para termos esse laboratório é o fato de estarmos no fim desse bônus. O que propomos para essa juventude que será o futuro do nosso país, que cuidará da Amazônia, da democracia? Temos 88,8% dos jovens brasileiros matriculados em escolas públicas no ensino médio. São eles que tomarão conta desse país, e a eles temos de dar oportunidade”, afirma.
“Outra justificativa é que hoje jovens fazem ensino médio e saem para dar continuidade a essa formação na universidade, que é o lugar mais nobre de formação profissional que temos. No entanto, somente 20% dos jovens de 18 a 24 conseguem ingressar no ensino superior. Para os outros 80%, qual a política pública e orientação possível? Nenhuma.”
Em contraposição, ela observa, em países da OCDE há centros para orientar alunos e existe uma preocupação com o jovem quando ele ainda está na escola. “Aqui não tem isso”, afirma Inoue.
A especialista argumenta, contudo, que inclusão produtiva não significa somente arrumar um emprego para o jovem, mas alinhá-los a novas economias, oferecer a eles perspectiva de crescimento profissional e inseri-los no mundo do trabalho da forma como ele se organiza hoje, sob impacto da tecnologia e novas economias.
“Se não tivermos políticas que deem a eles condições de contato com esse universo digital, de saúde e cuidados, da economia criativa, da sustentabilidade, o que eles farão? Ficarão fora disso”, ressalta.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, o país tem 5,2 milhões de jovens entre 14 e 24 anos sem ocupação ou acesso a alguma forma de renda. Desse total, 55% são mulheres e/ou pretos e pardos.
Durante o lançamento do laboratório, em São Paulo, será apresentado o estudo Inclusão Produtiva de Jovens, do Instituto Unibanco e da consultoria Vozes da Educação, que traz levantamento de 60 iniciativas de inclusão produtiva de jovens.
O documento analisa programas de empregabilidade dessa população em países como Quênia, Espanha, Canadá, Alemanha e Suíça, e iniciativas brasileiras como o Primeira Chance, presente nos Estados do Ceará, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
O estudo conclui que iniciativas de maior impacto para inserir os jovens no mundo do trabalho precisam englobar três frentes: formação de jovens (com foco em educação formal e novas habilidades), contratação de jovens (envolvendo parcerias com o setor produtivo), e retenção do jovem no emprego (com acompanhamento dele no trabalho).
Fonte: Valor Econômico

