16/09/2022 –
A retomada acelerada da economia, a ponto de atingir seu limite de capacidade, entrou no foco do Banco Central (BC), que voltou a pedir estimativas sobre o chamado hiato do produto (a diferença entre o PIB efetivo e o seu potencial) no questionário encaminhado a economistas antes da nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ? na próxima semana.
Mesmo após declarações de diretores do BC sinalizando uma ?alta residual? da Selic, a existência de indicadores mostrando uma economia mais aquecida do que se imaginava não alterou a avaliação no mercado de que, com a taxa nos atuais 13,75% ao ano, o ciclo de alta dos juros já teria chegado ao fim.
A expectativa é de que o aperto nos juros ? cujos efeitos, projeta o mercado, serão finalmente sentidos a partir deste segundo semestre ? irá esfriar a atividade.
Caso isso se confirme, a economia voltaria a crescer em 2023 abaixo de seu potencial (algo estimado entre 1,5% e 2%), tirando, assim, a pressão sobre os preços.
Porém, como a atividade não para de surpreender, muitos economistas entendem que a reunião do Copom deve terminar com uma mensagem de ?interrupção hawkish? do ciclo. Isto é, o BC não voltaria a subir os juros, mas reforçaria a sinalização de que a taxa seguirá nos patamares atuais por mais tempo, desautorizando o otimismo de quem ainda acredita em queda dos juros no primeiro trimestre do ano que vem.
CENÁRIO.
Cada vez menos economistas enxergam espaço para o BC cortar a Selic antes de junho. Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, trabalha com a perspectiva de manutenção dos juros durante todo o ano que vem. A aposta se baseia na pressão exercida pela demanda ? muito aquecida como reflexo da expansão dos programas sociais ? sobre os preços livres, aqueles que não são controlados pelo governo.
Para o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, os juros só devem começar a cair no terceiro trimestre de 2023. ?O BC deve rever para cima a projeção de crescimento do PIB deste ano, atualmente em 1,7%, sugerindo que suas projeções de inflação passam a considerar um hiato do produto mais apertado?, diz.
Segundo economistas, o aquecimento da atividade indica uma inflação mais persistente no setor de serviços.
Ao mesmo tempo, como a produção doméstica pode ser suficiente para suprir a demanda, as importações tendem a subir. É possível também, segundo parte dos analistas, que o mercado de trabalho fique mais apertado, faltando, inclusive, mão de obra em alguns setores. A consequência seria maior pressão sobre os salários.
Economia beira limite de capacidade.
Turbinada por estímulos fiscais concedidos pelo governo e pela forte retomada da atividade com o fim das restrições impostas pela covid-19, a economia brasileira, se já não passou, está quase no limite de sua capacidade de produção pela primeira vez em pelo menos sete anos. A ociosidade aberta na recessão doméstica de 2015/2016 e aprofundada na pandemia foi praticamente ocupada com o retorno rápido da atividade. Agora, a discussão entre economistas é se o País já não estaria crescendo mais do que pode, o que significa pressão sobre a inflação e maior dificuldade para o Banco Central administrar a política de juros.
O debate é alimentado pela divulgação de indicadores acima das expectativas, em especial o Produto Interno Bruto do segundo trimestre, com alta de 1,2% quando o consenso do mercado era de 0,9%. Para economistas de bancos como Santander, Bradesco e Fibra, a economia já roda entre 0,6% e 3,2% acima de seu potencial. Nas contas do Santander, a última vez que isso aconteceu foi no primeiro trimestre de 2014.
Já nas estimativas da XP Investimentos, o PIB ainda não alcançou toda a sua capacidade, mas deve superá-la até o fim deste ano. Para o banco Original, a economia está no limite do potencial de crescimento, como não acontecia desde meados de 2015.
As estimativas variam porque não existe uma única metodologia. A precisão dos cálculos também depende de questões como o fôlego de alguns setores (se não estariam passando apenas por uma recuperação cíclica) e a capacidade de contratação das empresas com as flexibilizações permitidas pela reforma trabalhista de cinco anos atrás. ?Mas dá para afirmar, com certo conforto, que a ociosidade vem caindo, e é praticamente inexistente nesse momento?, afirma Rodolfo Margato, economista da XP.
Fonte: O Estado de S.Paulo

