26 Aug 2022 MATHEUS PIOVESANA
O mercado de bancos digitais no México está entre cinco e dez anos atrás do brasileiro, e o Bradesco enxerga nisso uma oportunidade. Com a compra anunciada ontem da Ictineo, uma instituição financeira voltada à baixa renda, um dos bancos mais tradicionais do Brasil quer deter uma das maiores fintechs do mercado mexicano. “A intenção não é ter agências bancárias nem competir com os grandes bancos nesse segmento digital, porque, comparado com o Brasil, o México está bem atrás na questão da digitalização e no crédito, o que gera uma oportunidade”, disse ao Estadão/Broadcast Alexandre Monteiro, diretor da Bradescard México.
No país, que é a segunda maior economia da América Latina, o Bradesco opera com os chamados “cartões de loja”, emitidos em parceria com varejistas – hoje, são cinco produtos desse tipo, o que já confere ao banco uma base com 3 milhões de clientes. A Bradescard, porém, não é regulada pelo banco central do México, o que lhe traz limitações na frente de produtos. Com a Ictineo, essa base será aliada a uma licença para oferecer contas digitais, empréstimo consignado e para captar depósitos dos clientes.
“Queremos explorar o canal digital de uma maneira muito mais forte, e impulsioná-lo de maneira a ser um dos maiores, ou até a maior instituição financeira digital nos próximos cinco anos”, projeta Monteiro.
O diretor da Bradescard afirma que só 0,8% da população mexicana tem conta em fintechs, muito menos do que no Brasil. A relação entre crédito e PIB está por volta de 40%, a metade da observada por aqui.
Se no Brasil o Bradesco é sinônimo de clientes já familiarizados com o sistema bancário, no México o perfil é outro. “Boa parte dos nossos clientes atuais teve o primeiro cartão de crédito conosco. Temos uma experiência de atuar na bancarização”, diz Monteiro.
CONCORRÊNCIA. No projeto que surge com a compra da Ictineo, os principais concorrentes são bancos tradicionais, como o BanCoppel e o Banorte, que avançaram na frente digital, mas também o brasileiro Nubank, que tem no mercado mexicano sua maior aposta fora do Brasil. Inicialmente, a ideia é usar a marca Bradescard, mas não está descartada a “exportação” das brasileiras Next e Digio, algo que o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, sugeriu em 2021.
O diretor da Bradescard não revela valores, mas diz que o banco fará um investimento relevante para perseguir a liderança entre fintechs no México. “Vemos um alto investimento em tecnologia, porque queremos ser referência no mundo digital”, diz Monteiro, reforçando que o banco comprou a Ictineo pela licença – que em outra condição poderia demorar anos para ser concedida. Agora, a expectativa é de que as aprovações regulatórias, tanto no México quanto no Brasil, saiam em 2023. “A ideia é fazer cross sell (venda cruzada), porque os nossos clientes atuais têm produto de crédito, mas não de débito. E pretendemos atrair novos clientes.” É uma estratégia divergente da que parte do mercado pensou que o banco adotaria no país. Quando o americano Citi anunciou que venderia o Banamex, um dos maiores bancos do México, o Bradesco foi apontado como um dos favoritos para levar o ativo – o que não aconteceu.
Monteiro não teceu comentários a respeito disso, mas ressaltou que, para o Bradesco, os “neobancos” são os principais rivais no México. Ele não descartou novos movimentos no continente no futuro.
A semana, aliás, tem sido movimentada para o Bradesco. Na quarta-feira, o banco já havia anunciado uma sociedade com o BV para formar uma gestora de recursos independente no Brasil, com R$ 41 bilhões em ativos de partida. No Brasil e no México, o segundo maior banco privado brasileiro está se mexendo – mas sem começar do zero. •
Espaço para crescer Diretor da Bradescard diz que só 0,8% da população mexicana possui conta em bancos digitais
Fonte: O Estado de S. Paulo

