A paralisação (“shutdown”) do governo dos Estados Unidos se torna hoje a mais longa da história do país ao completar 36 dias de interrupção do financiamento federal, em meio à manutenção do impasse entre congressistas republicanos e democratas.
Até então, o recorde era da paralisação ocorrida entre o fim de 2018 e o início de 2019, durante o primeiro governo Trump, que durou 35 dias em meio ao impasse entre o presidente e os congressistas em razão da demanda de Trump em utilizar US$ 5,7 bilhões em verbas para construção de um muro na fronteira com o México.
O Partido Republicano, que tem maioria no Senado, precisa de sete votos dos democratas para atingir um total que permitiria a aprovação de um projeto de financiamento limitado do governo.
Os democratas, por sua vez, pedem uma extensão dos subsídios à Lei de Cuidados Acessíveis (ACA, na sigla em inglês, também conhecida como “Obamacare”), previstos para expirarem neste mês.
Para o diretor da faculdade de Direito da University of Arkansas at Little Rock, Colin Crawford, a manutenção do “shutdown” poderá resultar em um efeito-dominó na estrutura federal dos EUA.
“No curto prazo, milhões de funcionários públicos não vão ter dinheiro para pagar por suas necessidades básicas, como comida, aluguel, enquanto no médio prazo, o ‘shutdown’ inibe o funcionamento certo de algumas atividades governamentais essenciais”, disse.
Trump está mais interessado em reformas de luxo na Casa Branca”
“Por exemplo, já falta um número necessário de controladores de tráfego aéreo. Com a paralisação, a possibilidade de empregar e treinar novos controladores deixa de existir”, acrescentou, citando que tais efeitos podem levar “anos e anos” para serem revertidos.
Ontem, o secretário de Transportes dos EUA, Sean Duffy, afirmou que, caso a paralisação dure mais uma semana, determinadas partes do espaço aéreo americano precisarão ser fechadas para garantir a segurança dos passageiros. No último fim de semana, mais de 16,7 mil voos sofreram atrasos e outros 2,3 mil foram cancelados por conta da escassez de pessoal nos postos de controle de tráfego aéreo.
O Programa de Assistência Nutricional Suplementar (Snap, na sigla em inglês), tornou-se outra questão sensível durante o “shutdown”. Em caso de interrupção, cerca de 42 milhões de beneficiários deixariam de receber o auxílio, destinado à famílias de baixa renda dos EUA.
Uma decisão judicial recente determinou que o governo usasse as verbas do fundo de contingência para pagar os auxílios. Ontem, porém o presidente Trump, em publicação na sua rede social descartou que qualquer pagamento referente ao SNAP ocorra antes de uma reabertura do governo.
“Os benefícios do SNAP […] só serão concedidos quando os democratas da extrema esquerda reabrirem o governo”, escreveu. A Casa Branca declarou que o governo está cumprindo “integralmente” a decisão judicial e que a publicação de Trump se referia aos benefícios futuros do SNAP.
No domingo, ele havia declarado, em entrevista à CBS, que não permitiria uma “extorsão” por parte dos democratas e que só negociaria com o partido após a reabertura do governo.
De um modo geral, prolongamento da paralisação tem afetado uma ampla gama de agências e serviços do governo federal, de investigações do FBI até divulgações de índices macroeconômicos. Na última semana, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, sugeriu que o ‘shutdown’ pode levar a uma interrupção do ciclo de corte da taxa de juros em dezembro, ao fazer uma analogia de “dirigir um carro na neblina”.
“Infelizmente acho que nada vai mudar por agora. O presidente, a única pessoa que poderia fazer progresso agora, não parece interessado. Ele está mais interessado nas reformas do salão de festas e do banheiro da Casa Branca. Reformas de luxo”, disse Crawford.
Fonte: Valor Econômico

