Por Patrick Temple-West e Brooke Masters, Financial Times, Valor
01/03/2023 11h25 Atualizado há 21 horas
As maiores administradoras de recursos, firmas de private equity e corretoras de Wall Street advertiram que a reação contrária aos investimentos sustentáveis agora é um risco material, em balanços que observaram como a antipatia pelos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) passou a ser vista como uma ameaça aos lucros.
Uma dúzia de grandes empresas financeiras dos Estados Unidos, como BlackRock, Blackstone, KKR e T. Rowe Price, incluiu observações em seus balanços anuais, divulgados nos últimos 30 dias, avisando que pressões como “pontos de vista divergentes” e “demandas concorrentes” nos investimentos ESG poderiam prejudicar o desempenho financeiro.
As observações são uma resposta à campanha contra o que os oponentes chamam de “capitalismo woke” [um desdobramento do termo original, ligado ao “despertar” da consciência social e racial]. Essa campanha tem atraído o apoio de políticos republicanos de alta visibilidade, como o líder do partido no Senado dos EUA, Mitch McConnell, e o governador da Flórida, Ron DeSantis.
Autoridades de Estados americanos liderados por políticos republicanos abriram processos de investigação na BlackRock e na State Street a respeito de seus votos em propostas de acionistas. Deputados estaduais já aprovaram leis e estão estudando outras para exigir que os fundos de pensão governamentais evitem administradoras de recursos que levam em conta questões climáticas ou de igualdade racial em seus investimentos.
A Blackstone, a maior firma de private equity do mundo, divulgou que a investigação dos Estados sobre possíveis “boicotes” a empresas de combustíveis fósseis poderia afetar a captação de recursos e as receitas, de acordo com o balanço anual de 2022, enviado na semana passada à Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA). Pontos de vista divergentes sobre os princípios ESG aumentam o risco de que a ação ou inação “sejam vistas negativamente por, pelo menos, algumas das partes interessadas e impactem adversamente nossa reputação e negócios”, segundo a Blackstone.
O sentimento anti-ESG “ganhou força” nos EUA, destacaram as firmas de private equity Carlyle, TPG e Ares em seus relatórios de resultados anuais, alertando para o risco de que leis contrárias aos princípios ESG possam atrapalhar a captação de recursos.
O executivo-chefe da BlackRock, Larry Fink, disse que os secretários estaduais de Finanças republicanos retiraram, em 2022, cerca de US$ 4 bilhões da gestora de ativos em razão de preocupações com questões ESG. Em dezembro, a BlackRock e a rival State Street foram repreendidas por suas políticas de investimento ESG em uma audiência legislativa no Texas. Nos balanços anuais, as duas empresas também incluíram novas observações neste ano sobre os riscos decorrentes da oposição aos princípios ESG.
O balanço da State Street informa que a investigação das práticas ESG se tornou um risco político e de reputação, acrescentando ter recebido solicitações de informações como parte das apurações dos Estados.
A T. Rowe Price e a Raymond James, gestoras de investimentos que até agora vêm escapando de receber críticas políticas, também alertaram em seus balanços anuais sobre as opiniões “conflitantes” e “divergentes” quanto aos princípios ESG.
Os riscos da reação contrária aos ESG não se limitam às gestoras de investimento. O US Bancorp também ressaltou que “opiniões divergentes” entre suas partes interessadas poderiam prejudicar sua reputação. A Morningstar, uma provedora de dados que também possui uma firma de rating de riscos ESG, informou que precisou gastar dinheiro para responder a questionamentos políticos sobre suas práticas ESG.
As observações nos relatórios anuais de resultados chegam vários anos depois de os gerentes de recursos terem começado a alertar nos balanços para os riscos financeiros representados pelos defensores pró-ESG. A maioria dos grandes bancos e gestores de ativos continua a alertar para problemas como a perspectiva de não conseguir atender à demanda dos investidores por produtos ESG e as acusações de estarem fazendo “maquiagem verde” ou de não estar lidando de forma adequada com os perigos das mudanças climáticas.
Alguns projetos de lei estaduais anti-ESG naufragaram neste ano. Na semana passada, no Estado de Wyoming, rico em carvão, os deputados estaduais votaram contra dois projetos que propunham o corte de relação com firmas de investimento que tivessem evitado investir em empresas de energia por questões ambientais. Autoridades estaduais alertaram que os projetos estavam redigidos de forma muito ampla, o que poderia ter custos financeiros aos fundos de pensão ao restringir indevidamente suas opções.
O conflito agora vem se transferido para a esfera federal. Os republicanos no Congresso tentam impedir que o governo Biden permita que os planos de aposentadoria levem em conta os padrões ESG em seus investimentos.
Fonte: FT / Valor Econômico

