4 Apr 2022 VALÉRIA BRETAS
Para o Bridgewater, maior fundo de hedge do mundo, com um patrimônio aproximado de US$ 150 bilhões e gerido por Ray Dalio, esse movimento exige que o preço do carbono entre no radar e seja monitorado. A consequência de ficar para trás pode representar problemas para a estabilidade financeira.
“Existe o risco de uma pressão inflacionária. A precificação do carbono tem o potencial de aumentar os preços da energia e, por sua vez, os preços de bens e serviços em toda a economia”, diz Carsten Stendevad, co-chefe de investimentos sustentáveis da Bridgewater Associates.
Os investimentos sustentáveis somam mais de US$ 4 trilhões em ativos no mundo. Qual a sua avaliação sobre o investidor que ainda não percebeu a potência entre o capitalismo e a sustentabilidade?
Os investidores devem pelo menos tentar entender como as questões sociais e ambientais afetam o desempenho financeiro de suas carteiras. Os objetivos e ações dos diversos agentes econômicos são muito impulsionados por aspectos ambientais e sociais. Mesmo que você não se importe com essas questões, o mundo ao seu redor se importa cada vez mais. E, como o que os demais fazem afetará sua carteira, todos precisam estar atentos.
Alocar capital nesses ativos garante resultados sustentáveis?
A influência de fatores sociais e ambientais nos retornos financeiros não leva necessariamente a uma maior alocação de capital em direção a resultados sustentáveis. Acredito que os investidores podem contribuir de modo significativo para solucionar problemas sociais e ambientais quando escolhem priorizar o impacto de seu capital, além de seus objetivos financeiros. Mas isso é difícil e requer novos dados, ferramentas, capacidades analíticas e estratégias. Essa é a jornada na qual nós e muitos investidores estamos.
Qual o impacto das mudanças climáticas nas principais economias do mundo?
Há impactos físicos e de transição. Se fizermos pouco para a transição à economia de zero carbono, a maior consequência provavelmente serão as mudanças físicas. As estimativas de especialistas quanto ao impacto econômico variam muito, mas (as mudanças climáticas) podem ser um obstáculo importante para o PIB ao longo deste século.
Qual é o maior risco que o investidor deve monitorar neste momento?
Um risco para o qual chamaríamos a atenção é o de uma pressão inflacionária. A precificação do carbono, por exemplo, tem potencial de aumentar os preços da energia e, por sua vez, os preços de bens e serviços. Achamos que, para muitos investidores globais, ativos de proteção à inflação são uma medida para reduzir um possível risco.
Com quais cenários a Bridgewater trabalha atualmente?
Boa parte da pesquisa que fizemos é sobre os pontos a seguir: avanço da tecnologia verde aumenta a produtividade e estimula investimentos consideráveis do setor privado; gastos do governo em infraestrutura verde, isso reduz o custo da energia renovável, acelerando a transição; é provável que o aumento dos gastos diretos do governo exerça pressão para cima do crescimento e da inflação; precificação do carbono, aumenta o custo da emissão de gases de efeito estufa. Isso é, por natureza, inflacionário – pois o mecanismo pelo qual opera está aumentando os custos das atividades atuais para desencorajá-la; por fim, a restrição de oferta, que força as instituições a reduzirem o consumo de combustíveis fósseis. A escassez de energia provavelmente desacelerará o crescimento econômico (já que algumas atividades não são substituídas por alternativas mais sustentáveis).
Quais as iniciativas da Bridgewater a favor do clima e economia de baixo carbono?
Vemos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como modelo global de sustentabilidade e estamos criando carteiras de acordo com essas diretrizes. É tarefa desafiadora. •
Fonte: O Estado de S. Paulo