Altamiro Silva Junior, Karla Spotorno e Cynthia Decloedt
05 de outubro de 2022 | 10h00
Clientes brasileiros do Credit Suisse têm demonstrado preocupação com a crise do segundo maior banco da Suíça, que ganhou os holofotes da imprensa econômica mundial nos últimos dias. Executivos do banco no Brasil foram procurados por investidores e outros clientes endinheirados com dúvidas sobre a situação financeira do grupo e dos rumos da operação brasileira, após as ações do Credit caírem para mínimas históricas e o Credit Default Swap (CDS), espécie de seguro que protege contra calotes, disparar e superar os níveis da crise financeira mundial de 2008.
Aos clientes que questionaram o banco, o comando do Credit Suisse no Brasil tem afirmado que a instituição está financeiramente saudável, aqui e lá fora, e os negócios seguem normalmente – ‘business as usual’, na expressão em inglês. Os indicadores de capital da filial brasileira estão superiores aos dos concorrentes e a operação local não precisa de capital da matriz em Zurique, segundo uma fonte.
Banco tem quase 1 mil funcionários no Brasil
No Brasil, o último balanço do banco, com dados do segundo trimestre, mostrava índice Basileia, indicador que mede o nível de capital dos bancos, de 18,2%, bem acima do mínimo requerido pelo Banco Central, na casa dos 11%. Na operação global, o índice de capital principal está em 13%. Outro indicativo da saúde financeira do Credit no Brasil foi dado pela Fitch Ratings, que no mês passado afirmou o rating do banco no país.
O Credit Suisse tem perto de mil funcionários no Brasil e recentemente demitiu 21 pessoas. Segundo fontes, foram cortes na área operacional e de suporte, e não há relação com o momento atual do banco. O Credit vai anunciar um plano estratégico no dia 27, quando deve revelar um programa de cortes de custos e vendas de ativos, após apostas erradas em 2021 provocarem prejuízos bilionários, razão da atual crise de confiança.
CEO admite “momento crítico” em mensagem
Executivos em São Paulo também receberam a mensagem do CEO do Credit, Ulrich Koerner, que tentou tranquilizar os funcionários da casa. Segundo ele, o banco passa por “momento crítico”, mas está líquido e com bons níveis de capital. Ontem (4), os ativos do Credit tiveram dia de recuperação. O CDS caiu, mas ainda segue em níveis historicamente altos e a ação subiu 8,8%. Lá fora, há relatos de saques grandes de clientes e até de agência fechada na Suíça.
O economista Mohamed El-Erian, assessor econômico-chefe do Allianz Group e muito ouvido por Wall Street, afirmou que não vê o Credit em um “momento Lehman [Brothers]“, alusão ao banco americano que quebrou em 2008 e desencadeou a crise financeira mundial. Ao mesmo tempo, alertou que a reação do mercado aos problemas do banco suíço tem sido “preocupante”, disse em entrevista à CNBC.
Operação de gestão de fortunas na AL estaria à venda, diz imprensa suíça
Entre os planos do Credit, segundo relatos da imprensa suíça, estaria a venda da operação de gestão de fortunas na América Latina, mas não no Brasil. No mercado local, o Credit tem uma operação importante de banco de investimento, além de gestão de fortunas – uma das mais rentáveis do grupo no mundo – e administração de fundos imobiliários. Por aqui, não se acredita que uma venda das operações na região sem o Brasil atrairia interessados.
Fonte: O Estado de S. Paulo