Por David Stanway — Reuters, de Xangai
25/08/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
O calor extremo que atinge a China causou devastação no país ontem, apesar das temperaturas mais baixas observadas em algumas regiões. Autoridades de toda a bacia do rio Yagtze se empenharam, atabalhoadamente, em limitar os danos causados pela mudança climática ao abastecimento de energia elétrica, à produção agrícola e aos animais de criação.
A onda de calor que se abate sobre a China e já se estende há mais de 70 dias é a mais prolongada e a mais extensa já registrada, com cerca de 30% das 600 estações climáticas ao longo do rio Yangtze tendo alcançado seus maiores picos de temperaturas de todos os tempos até a sexta-feira.
A região de Chongqing, no sudoeste do país, foi atingida de maneira especialmente dura. Um de seus habitantes, Zhang Ronghai, por exemplo, disse que tanto seu abastecimento de água quanto de energia elétrica foram cortados após um incêndio de quatro dias ocorrido nas montanhas do bairro de Jiangjing. “As pessoas têm de ir a um centro de energia elétrica, a mais de 10 quilômetros daqui, para carregar seus celulares”, disse Zhang.
Ontem, imagens compartilhadas pelo serviço Weibo da China, uma rede social semelhante ao Twitter, mostrou moradores e voluntários de Chongqing e Sichuan passando por tremendas dificuldades e até sofrendo desmaios sob o intenso calor durante a campanha de testagem obrigatória para covid-19.
O Departamento de Agricultura de Chongqing, além disso, emitiu medidas de emergência para proteger animais de criação em mais de 5 mil fazendas de suinocultura de grande escala. Essas atividades têm enfrentaram “graves desafios” em decorrência do calor, segundo informações da mídia estatal.
Danos às plantações e a escassez de água poderão “se espalhar para outros setores relacionados à produção de alimentos, resultando em um aumento substancial dos preços ou, eventualmente, em uma crise alimentar de escala mais grave”, diz Lin Zhong, um professor da City University de Hong Kong que estudou o impacto das mudanças climáticas na agricultura na China.
O Centro Meteorológico Nacional da China rebaixou ontem seu alerta nacional de calor para a condição “laranja” – após 12 dias consecutivos de “alertas vermelhos”, mas a expectativa é de que as temperaturas continuarão excedendo os 40º C em Chongqing, Sichuan e em várias outras partes da bacia do rio Yangtze.
Uma estação climática de Sichuan registrou uma temperatura de 43,9º C nesta quarta, a maior já registrada na província, segundo informaram meteorologistas da agência oficial do governo em seu canal na rede Weibo.
A China alertou que é especialmente vulnerável às mudanças climáticas e que os desastres naturais deverão proliferar nos próximos anos como resultado do clima mais atípico.
Com a seca se estendendo, a imprensa estatal chinesa vem voltando suas atenções para o impacto das mudanças climáticas em outros países.
“As mudanças das condições de clima mais uma vez são um alerta para o mundo”, ressalta na terça-feira os veículos da mídia oficial da China. Esses relatos acrescentam que ondas de calor e secas atingiram duramente a Europa, África e América do Norte nas últimas semanas.
A China, maior fonte mundial de emissões de gases de efeito estufa, que aquecem o clima, está comprometida em reduzir as emissões de CO2 a antes de 2030 e se tornar “neutra em carbono” até 2060. O país também está avançando no desenvolvimento de energias renováveis.
Mas a seca afetou a geração de energia hidrelétrica e a geração de energia com a queima de carvão está novamente em alta, com usinas na província de Anhui elevando a geração em 12% em comparação aos anos normais.
Li Shuo, consultor do organização internacional Greenpeace para o clima em Pequim, alertou que os cortes de energia “poderão ser facilmente usados como argumento para construir mais usinas movidas a carvão”, mas disse que um verão de extremos em todo o mundo poderá levar à adoção de mais medidas.
Fonte: Valor Econômico

