Por Frances Yoon e Weilun Soome — Dow Jones Newswires
17/08/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
O banco central da China quer impulsionar a economia lenta do país, mantendo sua moeda estável. Isso está se provando ser um ato de malabarismo bem difícil. O Banco do Povo da China (PBoC) cortou várias taxas de juros na terça-feira, mesmo dia em que o país divulgou uma série de dados de julho que pintavam um quadro sombrio para a economia chinesa. A redução das taxas de juros visa dar um impulso à economia, mas também pressiona a moeda.
O dólar americano foi negociado a 7,34 yuans “offshore” durante o horário comercial asiático na manhã de quarta-feira, aproximando-se de seu recorde de baixa de 7,38 yuans estabelecido durante as negociações intradiárias em outubro passado. A moeda se recuperou no final do dia, mas os estrategistas de câmbio acreditam que a pressão de venda permanecerá.
Mais cedo na quarta-feira, o banco central estabeleceu sua fixação diária para a moeda “onshore” em 7,1986 yuans por dólar. Ele permite que a moeda seja negociada em uma faixa estreita no mercado doméstico. “A situação é terrível”, diz Michelle Lam, economista chinesa do Société Générale. “A pressão sobre o yuan chinês continuará se o setor imobiliário não se estabilizar, o que pesará na economia e na estabilidade financeira.”
O mercado imobiliário do país está em queda há anos, prejudicando gravemente a confiança em uma economia onde o aumento dos preços dos imóveis foi por muitos anos uma fonte importante de riqueza. Dados oficiais mostram que as vendas de casas caíram e os preços estão recuando. A Country Garden Holdings, uma das maiores incorporadoras chinesas, não pagou dois juros de títulos em dólares na semana passada, alimentando uma derrocada mais ampla do mercado.
As exportações da China estão encolhendo e os preços ao consumidor caíram recentemente para território deflacionário. As vendas no varejo, a produção industrial e o investimento em ativos fixos cresceram em um ritmo mais lento em julho do que no mês anterior. Os dados do desemprego juvenil, que atingiu o recorde de 21,3% em junho, não serão mais publicados.
Isso está colocando Pequim em uma situação complicada. O banco central está oficialmente comprometido em usar a política monetária para manter um valor de moeda estável “e assim promover o crescimento econômico”, mas no momento sua principal ferramenta política – o nível das taxas de juros – pode impulsionar apenas um lado dessa equação. “A situação está ficando complicada”, disse Kin Tai Cheung, estrategista-chefe de câmbio asiático do Mizuho Bank. Ele disse que o enfraquecimento do yuan limita a capacidade do BC de fazer novos cortes para sustentar a economia.
As taxas de juros são um dos principais impulsionadores dos valores da moeda, uma vez que os investidores estrangeiros tendem a mover seu dinheiro para países onde podem obter os retornos mais altos. O aumento histórico das taxas de juros dos EUA no último ano e meio já havia pressionado o yuan, com o dólar americano se fortalecendo em relação a várias moedas. A diferença entre os rendimentos dos títulos do governo de dez anos nos EUA e na China está em seu nível mais amplo em mais de uma década, de acordo com dados da Tullett Prebon.
O yuan offshore, que é negociado com mais liberdade do que a moeda local, desvalorizou 5,4% em relação ao dólar americano este ano. A maioria dos economistas diz que os cortes nas taxas de juros não são suficientes para resolver os problemas econômicos da China e que um grande pacote de estímulo fiscal é necessário. Mas o governo até agora se mostrou relutante.
Fonte: Valor Econômico

