Por Valor — São Paulo
25/07/2023 11h28 Atualizado há 12 horas
O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, foi destituído de seu cargo, informou nesta terça-feira (25) o principal órgão legislativo do país, sem dar mais detalhes — em um caso que levantou dúvidas sobre a coesão e eventuais disputas nos círculos mais altos do governo do líder Xi Jinping. Numa reunião de emergência, o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo renomeou o antecessor de Qin, Wang Yi, para substitui-lo.
O Comitê também nomeou Pan Gongsheng como principal executivo do banco central, substituindo Yi Gang.
O paradeiro e o bem-estar de Qin vinha sendo foco de especulação desde sua última aparição pública em 25 de junho. Desde então, ele se ausentou de vários eventos internacionais de alto nível e visitas de autoridades estrangeiras.
Depois de persistentes perguntas da mídia e relatórios infundados, incluindo um sobre um suposto caso extraconjugal com uma apresentadora de TV, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, disse em 11 de julho que Qin não compareceria à reunião anual da Associação das Nações do Sudeste Asiático em Jacarta por “razões de saúde”.
Em vez disso, a China enviou o predecessor de Qin, Wang Yi — que também foi mostrado posteriormente na TV acompanhando Xi em reuniões com visitantes, como o ex-presidente filipino Rodrigo Duterte e com o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, na semana passada.
Qin tinha muitos rivais na chancelaria chinesa, de acordo com a consultoria americana Eurasia Group, sugerindo que pode ter havido uma luta pelo poder após ele ter sido promovido ao cargo em detrimento de candidatos mais experientes. “Supostamemte, Qin não concordava com a política de Wang, que preferia que alguém mais alinhado com sua visão de mundo — sobretudo sobre a Rússia — o sucedesse, disse a Eurasia em nota.
Qin, de 57 anos, era uma aposta pessoal de Xi e foi nomeado ministro em dezembro, depois de servir por cerca de dois anos como principal enviado da China aos EUA. A nomeação fez dele um dos mais jovens ministros das Relações Exteriores da história da China e liderava a diplomacia do “lobo guerreiro” de Pequim, que visou nos últimos anos a rechaçar qualquer interferência nos interesses nacionais da China.
Em seu anúncio no noticiário noturno nacional, a emissora de TV estatal CCTV foi lacônica ao mencionar a remoção de Qin. Em minutos, todas as citações e fotos dele foram removidas do site do Ministério de Relações Exteriores. No entanto, ele ainda era mencionado no site principal do governo central como conselheiro estadual em nível de gabinete, um possível sinal de que sua carreira pode não ter terminado definitivamente.
Não é incomum que as autoridades chinesas saiam de cena, sem muitos esclarecimentos — algumas das quais reaparecem mais tarde para enfrentar acusações legais. Mas no caso de Qin, sua proximidade com Xi acrescenta uma dimensão diferente ao episódio. Agora que sua queda em desgraça foi confirmada, a administração de terceiro mandato de Xi enfrenta um desafio de credibilidade, já que é composta por figuras de confiança cuidadosamente selecionadas pelo próprio presidente.
Para acomodar Qin no ministério e Wang, de 69 anos, em um assento no Politburo, Xi quebrou regras de promoção e aposentadoria por antiguidade do Partido Comunista Chinês. Qualquer queda precoce de Qin pode levantar questões sobre por que Xi permitiu que ele fosse promovido.
Sun Yun, diretor do Programa da China no Stimson Center, de Washington, disse que a remoção de um ministro é sempre um constrangimento para o regime.
Por outro lado, o passo de remover Qin Gang depois de menos de um ano e substituí-lo por Wang não parece sinalizar nenhuma mudança significativa na política externa rígida adotada nos últimos anos por Xi Jinping. Autoridades dos EUA disseram não esperar nenhuma alteração na disputa com o maior rival geopolítico de Washington com a repentina saída de Qin.
Fonte: Valor Econômico

