Por Sha Hua, Dow Jones — Cingapura
03/07/2023 12h58 Atualizado há 13 horas
A China anunciou nesta segunda-feira (03) que restringirá as exportações de produtos e insumos que contêm gálio e germânio, metais vitais na fabricação de semicondutores, estações de radiobase 5G e painéis solares. A medida é vista por executivos do setor como retaliação às restrições adotadas pelos EUA e outros países às vendas à China de chips avançados e de equipamentos para a fabricação de chips.
China e EUA travam uma disputa em torno da hegemonia tecnológica em áreas como inteligência artificial (IA), computação quântica e tecnologia de energia limpa.
Os EUA dizem que suas medidas contra as fabricantes de chips chinesas visam evitar que a China desenvolva tecnologias que lhe dêem uma vantagem em equipamentos bélicos e em outras áreas consideradas por Washington como decisivas para a segurança nacional do país. Os EUA instaram seus aliados a tomar medidas semelhantes.
Para Pequim, as medidas dos EUA visam deter a ascensão econômica da China. Os chineses reagiram proibindo transações comerciais com duas empresas americanas de equipamentos bélicos — Lockheed Martin e um braço da Raytheon Technologies — e vedando o uso, por empresas de infraestrutura de informação, de produtos da fabricante americana de semicondutores Micron Technology.
O breve comunicado do Ministério do Comércio da China emitido ontem disse que a regra entrará em vigor em 1 de agosto, a fim de “salvaguardar a segurança e os interesses nacionais”. As exportadoras dos dois metais terão de solicitar licenças e informar detalhes sobre os compradores internacionais ao Ministério caso queiram remetê-los para fora do país.
O documento não fornece detalhes, o que sugere que Pequim talvez queira usar a nova regra como alavancagem em negociações com os EUA e seus parceiros.
O anúncio ocorre às vésperas da visita da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, à China para se reunir com graduadas autoridades do governo. A secretária do Comércio americana, Gina Raimondo, disse que também prevê viajar à China nos próximos meses.
“Essa medida provocará imediatamente ondas de choque no setor de semicondutores, principalmente no que tange aos chips de alto desempenho”, disse Alastair Neill, membro do conselho diretor do Critical Mineral Institute.
Embora o valor do gálio e do germânio, forjados e não forjados, exportados pela China seja de apenas US$ 36 milhões e US$ 54 milhões, respectivamente, segundo dados alfandegários chineses, o impacto das restrições às exportações pode ser muito maior.
A China domina a produção, o refino e o processamento global de muitas matérias-primas essenciais, entre as quais o gálio e o germânio, que são subprodutos do processamento de commodities como zinco, carvão ou bauxita.
Ao mesmo tempo em que o acesso dos EUA e de seus aliados a esses minerais essenciais depende da China, a China precisa da tecnologia ocidental como máquinas de litografia, para produzir chips de alto desempenho.
As fabricantes e fornecedoras chinesas de chips que se reuniram em Xangai em recente evento setorial revelaram desânimo em reação às notícias de que o governo Biden estuda novas restrições a exportações de chips de inteligência artificial à China. O Departamento de Comércio dos EUA não fez comentários de imediato.
Executivos do setor disseram que a medida anunciada ontem mostra a determinação de Pequim em retaliar as ações dos EUA e de alguns de seus aliados de restringir as vendas à China de semicondutores avançados e dos equipamentos destinados à sua produção.
“Se vocês não enviarem chips avançados à China, a China reagirá deixando de mandar para vocês os elementos de alto desempenho de que vocês precisam para [produzir] esses chips”, disse Neill. Segundo ele, Pequim normalmente tenta combinar medidas comerciais americanas com contramedidas de iguais proporções.
Os controles sobre as exportações permitem que Pequim tenha como alvo empresas específicas, bem como segmentos mais amplos de determinados setores, e tome decisões com base em considerações geopolíticas, disse Paul Triolo, da consultoria Albright Stonebridge Group, em Washington.
A China sinalizou aos EUA que está interessada em criar um novo diálogo bilateral sobre controles às exportações, e sua medida mais recente pode dar a Pequim maior alavancagem nas próximas discussões com Washington, diz ele.
O gálio, que, em temperatura ambiente, é um metal macio, prateado, é um insumo da categoria de semicondutores usados em carregadores de telefone e veículos elétricos, de crescimento acelerado, em meio à crescente gama de aplicações comerciais e militares.
O arsenieto de gálio (GaAs) — um composto com arsênico — é amplamente usado em chips de alto desempenho por ser mais resistente ao calor e à umidade e de maior condutibilidade do que o silício. No momento, “não existem substitutos eficientes para o GaAs nessas aplicações”, observou o Levantamento Geológico dos EUA de 2023 sobre o gálio.
O nitreto de gálio, resultante da combinação de gálio com nitrogênio, também é usado em sistemas avançados de radar e de escudos antimíssil. As vendas de chips de nitreto de gálio foram estimadas em US$ 2,47 bilhões no ano passado, segundo a Precedence Research, e prevê-se que subirão para US$ 19,3 bilhões até 2030. Os chips de arsenieto de gálio deverão crescer a partir de US$ 1,4 bilhão do ano passado para US$ 3,4 bilhões em 2030, segundo a Research and Markets.
A principal fornecedora de gálio aos EUA é a China, segundo a análise da Casa Branca sobre a cadeia de suprimentos interna em 2021. Cerca de 53% do gálio dos EUA foi importado da China entre 2018 e 2021, segundo o Levantamento Geológico dos EUA, e as importações caíram significativamente em 2019, após os EUA terem imposto tarifas mais elevadas sobre o gálio chinês. Não há produção nacional americana de gálio não refinado.
O germânio, um metal brilhante, branco-acinzentado, também tem capacidade de tornar o silício um condutor mais rápido, e é muitas vezes encontrado em células solares e em sistemas de fibra óptica. (Colaboraram Lingling Wei e Asa Fitch)
Fonte: Valor Econômico

