Por Keith Zhai, Jason Douglas e Stella Yifan Xie, Dow Jones
15/06/2023 15h32 Atualizado há 2 horas
Pequim planeja várias medidas de peso para reanimar a economia debilitada da China, como a possibilidade de gastar bilhões de dólares em novos projetos de infraestrutura e afrouxar as regras para estimular as vendas de imóveis residenciais, segundo fontes familiarizadas com as discussões.
A ofensiva segue-se à série de cortes nas taxas de juro que o banco central chinês fez nesta semana, incluindo uma ação ontem, que reduziu uma taxa de juro de um ano pela primeira vez desde agosto, depois que novos dados apontaram para um enfraquecimento da recuperação econômica.
As medidas são uma indicação de que Pequim está cada vez mais apreensiva com a perspectiva econômica, com a onda de empolgação após o fim da política de covid-zero perdendo força rapidamente.
A desaceleração do crescimento se soma a uma lista de desafios para Pequim, que incluem a tensa relação com os EUA e as medidas impostas pelos americanos e países aliados para limitar o acesso da China a chips avançados com base em alegações sobre a segurança nacional. Além disso, fabricantes têm reavaliado o papel da China em suas cadeias de fornecimento, diante dos temores de que atritos com o Ocidente provoquem futuros transtornos no comércio.
Mas muitos economistas têm dúvidas se as medidas mais recentes serão suficientes para reverter a deterioração da confiança e evitar mais desaceleração. Para alguns deles, essas medidas também indicam que as autoridades ainda estão aferradas às velhas formas de impulsionar o crescimento com o uso de crédito para estimular investimentos, em vez de adotar passos mais difíceis para aumentar a renda e o consumo das famílias.
Depois de registrar um crescimento sólido de 4,5% no primeiro trimestre, a China enfrenta vários problemas econômicos, como o enfraquecimento das exportações, a persistente crise do setor imobiliário e o alto nível de desemprego entre os jovens. Alguns economistas advertem que oferecer mais estímulos pode não ajudar, pois empresas e consumidores não estão dispostos a assumir mais dívidas.
“É difícil ter uma visão positiva sobre a economia da China neste momento”, disse Katrina Ell, economista da Moody’s Analytics.
Como parte de suas iniciativas de estímulo, Pequim estuda a possibilidade de emissão de bônus especiais do Tesouro no valor de 1 trilhão de yuans (cerca de US$ 140 bilhões) para ajudar governos locais endividados e aumentar a confiança empresarial, segundo fontes a par das discussões.
Essas fontes disseram que os bônus especiais seriam usados para financiar projetos de infraestrutura e outras iniciativas destinadas a impulsionar o crescimento econômico. E ainda seriam usados indiretamente para ajudar os governos locais a pagarem suas dívidas.
Pequim também analisa planos de acabar com as restrições para a compra de um segundo imóvel residencial nas cidades menores da China, como forma de impulsionar o mercado imobiliário, segundo essas fontes. Hoje, muitas cidades proíbem a compra de mais de um imóvel pela mesma pessoa para evitar a especulação.
Uma das fontes a par das discussões disse que os planos podem ser divulgados nos próximos dias, depois que uma série de dados econômicos divulgados ontem mostraram que o crescimento continuou perdendo força em maio.
A falta de uma recuperação vigorosa na China se soma aos sinais de debilidade da economia mundial, que está sob pressão por causa da inflação elevada, do aumento das taxas de juro e da guerra na Ucrânia. Grande parte da Europa entrou em recessão no primeiro trimestre. Economias voltadas à exportação, como Coreia do Sul, Taiwan e Vietnã, foram abaladas pela queda no comércio mundial.
Economistas de vários bancos de investimento, como o Nomura e o Barclays, rebaixaram suas previsões de crescimento da China para este ano nas últimas semanas. A maioria ainda espera que a China atinja a meta de crescimento de cerca de 5% neste ano, dado o fraco desempenho da economia em 2022, mas muitos já não veem mais uma recuperação mais forte.
“A economia enfrenta um risco crescente de estagnação”, disse Dan Wang, economista-chefe do Hang Seng Bank China.
Os dados mais recentes sugerem que o mercado imobiliário voltou a enfraquecer, após uma breve recuperação no início deste ano. As vendas de imóveis residenciais medidas em espaço físico caíram 2,7% ao ano em maio, após um ganho de 4,6% em abril, segundo dados oficiais divulgados ontem.
A expectativa é de que o declínio populacional da China e o excesso persistente de oferta de apartamentos vazios em cidades menores continuem a pesar sobre a demanda no setor imobiliário que, segundo algumas estimativas, responde por até um quarto da atividade econômica da China.
“Há pouco incentivo para comprar imóveis residenciais, a não ser para morar neles”, disse Shen Meng, diretor do banco de investimentos Chanson & Co. “A convicção [das pessoas] de que os preços dos imóveis residenciais só poderiam subir foi abalada.”
A desaceleração econômica iniciada em abril continuou em maio. As vendas no varejo na China subiram 12,7% ao ano em maio, segundo dados oficiais. Mas isso significa uma queda em relação à alta anual de 18,4% de abril. No mês, o crescimento foi de apenas 0,4%.
“Ainda observamos que o padrão de demanda continua a não subir no nível que esperávamos”, disse Mukul Deoras, presidente para a Ásia-Pacífico da gigante de bens de consumo Colgate-Palmolive, em uma teleconferência com investidores em junho.
A produção industrial subiu 3,5% ao ano em maio, após uma alta anual de 5,6% registrada em abril. No mês, a produção cresceu apenas 0,6%. As fábricas da China sofrem com a fraca demanda interna e da menor demanda do exterior — as exportações chinesas caíram 7,5% ao ano em maio.
O investimento em ativos fixos, como prédios e equipamentos, subiu 4% ao ano de janeiro a maio, mas ficou abaixo do ganho anual de 4,7% registrado no período de janeiro a abril. O investimento do setor privado caiu 0,1% de janeiro a maio, enquanto o investimento em imóveis despencou 7,2%. O início de novas construções no setor imobiliário no período de janeiro a maio caiu 22,6% ao ano, mais qeu o declínio de 21,2% registrado nos primeiros quatro meses do ano.
A taxa de desemprego entre pessoas de 16 a 24 anos subiu para 20,8% em maio, alcançando nova máxima histórica. Mais de 6 milhões de jovens nessa faixa etária estão em busca de trabalho. Em julho, com o fim do ano letivo na China, o mercado deve receber mais milhões de recém-formados.
Fonte: Valor Econômico

