Por Elaine Yu, Valor — Dow Jones Newswires
09/07/2023 13h01 · Atualizado
A crescente influência política da China no Oriente Médio vem fortalecendo os esforços para o estabelecimento de mais laços econômicos. Uma parte chave disso são bilhões de dólares em investimentos em empresas chinesas.
O líder da China, Xi Jinping, visitou a Arábia Saudita em dezembro, e reuniu-se com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, enquanto autoridades e executivos de empresas dos dois países assinavam uma série de acordos cujo valor pode chegar a US$ 50 bilhões. No início do ano, Pequim intermediou uma aproximação diplomática entre Arábia Saudita e Irã, uma rara iniciativa da China de intervir diretamente na região. Na esteira dos acordos políticos, vieram os acordos comerciais.
A Saudi Aramco, gigante estatal do petróleo, planeja investir US$ 3,6 bilhões na Rongsheng Petrochemical, uma empresa com sede em Hangzhou. O Ministério de Investimentos da Arábia Saudita assinou acordos que incluem investimentos de US$ 5,6 bilhões em um empreendimento conjunto com a Human Horizons, empresa chinesa de veículos elétricos (VEs). Um órgão financiado pelo governo de Abu Dhabi comprou uma participação avaliada em mais de US$ 730 milhões na NIO, outra fabricante chinesa de VEs.
Em junho, na Conferência de Negócios Sino-Árabe, em Riad, o presidente da Bolsa de Valores de Hong Kong, Nicolas Aguzin, previu que os maiores fundos soberanos do Oriente Médio poderiam destinar entre US$ 1 trilhão e US$ 2 trilhões de seus investimentos à China até 2030.
Os crescentes laços econômicos entre China e Oriente Médio mostram os desafios que os EUA enfrentarão na região rica em petróleo nas próximas décadas. A Arábia Saudita, que nos últimos anos teve uma relação tensa em certas ocasiões com os EUA, tenta expandir sua lista de aliados. Isso criou uma oportunidade para a China, o maior importador de petróleo do mundo, transformar sua influência econômica em capital político — e vice-versa.
Por outro lado, analistas também consideram que as oportunidades na China para investidores do Oriente Médio são naturais, mesmo deixando de lado a política. Aguzin disse que hoje os grandes fundos soberanos investem apenas de 1% a 2% de seus ativos na China. Ele acredita que isso será multiplicado por dez.
“Primeiro, o relacionamento entre os EUA e o Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico [CCG] tem regredido, então eles vêm investindo menos nos EUA”, disse Ethan Chan, presidente do ARTE Capital Group, uma firma de gestão de ativos em Hong Kong, referindo-se ao órgão de integração política e econômica do Oriente Médio. “Segundo, a alocação deles para a China ainda não é significativa”.
Um fundo soberano com o qual Chan trabalha nos Emirados Árabes Unidos investe atualmente cerca de 7% de toda sua carteira em ativos chineses, equivalente a um quinto do que investe nos EUA. O fundo não teria problemas em dobrar seus investimentos na China ou até ir além, segundo Chan.
O capital do Oriente Médio já se mostrou uma alternativa útil para as empresas chinesas cujo acesso ao sistema financeiro americano foi cortado.
A SenseTime, empresa de inteligência artificial (IA) de Hong Kong que entrou na lista especial de vetos do governo dos EUA, assinou contratos com os sauditas neste ano para explorar parcerias e desenvolver de projetos de turismo digital e “cidades inteligentes” na Arábia Saudita. A empresa começou a fazer negócios com a Arábia Saudita em 2018, incluindo um empreendimento conjunto com o fundo soberano Public Investment Fund (PIF).
O Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, investe na empresa de IA chinesa 4Paradigm desde 2021, segundo a S&P Global Market Intelligence. Os EUA haviam incluído a 4Paradigm em sua lista de restrição de exportações a empresas chinesas em março.
Os elos entre China e Oriente Médio também criam oportunidades na outra direção, com empresas de arquitetura, engenharia e tecnologia da China continental e de Hong Kong assinando ou negociando contratos com autoridades do Oriente Médio para tentar transformar suas economias, altamente dependentes do petróleo, em cidades inteligentes, mais sustentáveis.
Há cinco anos, a gigante chinesa das telecomunicações Huawei Technologies se viu na linha de frente de uma batalha tecnológica entre EUA e China, depois da acusação de que teria violado as sanções contra o Irã ter levado à detenção da diretora de finanças da empresa no Canadá, de onde poderia ser extraditada aos EUA — criando um incidente diplomático entre os três países até que se chegasse a um acordo no fim de 2021. A Huawei, por sua vez, vem expandindo gradualmente os negócios no Oriente Médio. Ajudou os Emirados Árabes Unidos a construírem sua primeira rede 5G na região do Golfo Pérsico e também assinou contratos com a operadora estatal de telecomunicações da Arábia Saudita.
O aumento das relações entre China e Oriente Médio também é boa notícia para Hong Kong, que tem vantagens atrativas para executivos dos dois lados. Em fevereiro, o chefe do Poder Executivo de Hong Kong, John Lee, encabeçou uma delegação à Arábia Saudita, para cortejar a gigante petrolífera Saudi Aramco a vender ações na Bolsa de Valores de Hong Kong. A delegação incluía altos executivos de empresas e de bancos.
A Dubai Chambers, organização governamental sem fins lucrativos, está abrindo um escritório em Hong Kong, depois de já ter inaugurado um na cidade continental vizinha de Shenzhen. Também pretende expandir a presença de Dubai na Ásia e ajudar empresas em Hong Kong a conhecerem mais sobre Dubai e a encontrarem parceiros na nação.
Fonte: Valor Econômico
![38d7c371ea9b4f0193d426e9b518d3f0-d9c92[1]](https://clipping.ventura.adm.br/wp-content/uploads/2023/07/38d7c371ea9b4f0193d426e9b518d3f0-d9c921-984x492.jpg)

