Por Daniela Chiaretti — De São Paulo
04/09/2023 05h00 Atualizado há 2 horas
Um cenário de crise econômica global somado ao choque de eventos extremos climáticos afetaria mais consumidores chineses do que americanos e europeus. Pesquisadores do Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK) mostram em estudo que, no caso de uma dupla crise – econômica global ampliada por tufões, inundações e ondas de calor -, o aumento dos preços triplicaria na China, duplicaria nos EUA e aumentaria um terço na UE. A explicação disso seria a forte capacidade exportadora chinesa, que supriria quebras de produção em outros lugares, mas teria que lidar com a própria crise interna.
“Queríamos medir como a economia dos países reagiria se estivesse sob um estresse global, como aconteceu durante a Covid-19, e, adicionalmente, sob o efeito de eventos climáticos extremos”, explica Robin Middelanis, autor principal do estudo. “Quando extremos climáticos acontecem em áreas com atividade econômica, dificultam a produção e causam perdas locais. Mas a falta de mercadorias causará impacto em outros lugares. Ou seja: se algo acontece a nível local terá efeitos em outras partes do mundo”, diz ele.
Os pesquisadores tomaram como base a pandemia, com impactos globais no comércio e em cadeias de produção. Adicionaram a isso eventos climáticos extremos, via modelos de computador. O foco foi nas economias mais fortes – EUA, UE e China. Definiram dois cenários: em um deles observaram o mundo sem pandemia, que funciona com suas capacidades econômicas normais; no outro, a atividade dos países foi reduzida de acordo com a intensidade das medidas de restrição adotadas na pandemia. A métrica foi a perda de consumo na crise global e com os eventos climáticos extremos, considerando quebras de produção.
“Extremos climáticos causam efeitos econômicos indiretos. Queríamos saber se haveria uma amplificação destes impactos em uma situação de crise econômica global”, continua ele. Em ambos os cenários, da economia global estressada e da que funciona normalmente, simularam impactos econômicos indiretos de choques econômicos locais causados por extremos climáticos. Cruzaram 7 mil setores de produção conectados por mais de 1,8 milhão de transações comerciais.
“A China é fortemente afetada por eventos climáticos. O país é tão intensivo em exportações, que, em uma crise econômica global, outros pedirão à China que compense suas perdas locais de produção”, explica. A economia chinesa pode sofrer impactos diretos mas também indiretos. “Há uma conexão entre o fato de a China ter fortes laços comerciais com outras regiões e suprir demandas globais e também sofrer com extremos climáticos. O aumento de preços nesta região pode ser mais forte”, diz ele.
“O aumento dos eventos climáticos extremos pode coincidir com crises econômicas não relacionadas ao clima”, diz Anders Levermann, do PIK. “O estudo mostra que é preciso aumentar a resiliência das relações comerciais para enfrentar choques que acontecem em outras regiões”.
Fonte: Valor Econômico

