Por Arthur Cagliari, Matheus Prado e Gabriel Roca — De São Paulo
12/09/2023 05h03 · Atualizado há 5 horas
O rali global do dólar sofreu uma pausa forçada ontem e deu espaço para um dia de valorização do real e de queda firme dos juros futuros. Os sinais do Japão sobre uma possível elevação nas taxas de juros e a intervenção do Banco do Povo da China (PBoC) no mercado local de câmbio forçaram uma correção do dólar, o que gerou um movimento favorável a ativos de risco. Dados positivos de crédito na China também estiveram no foco dos agentes e ajudaram a sustentar commodities metálicas, o que deu apoio extra ao Ibovespa.
O principal índice da bolsa, assim, fechou em alta de 1,36%, aos 116.883 pontos, enquanto o dólar recuou 1,02% e encerrou o dia cotado a R$ 4,9312. A apreciação do câmbio favoreceu, ainda, uma retirada de prêmios dos juros futuros, enquanto os agentes aguardam o IPCA de agosto. A taxa do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,545% para 10,495%, enquanto a do DI para janeiro de 2029 passou de 10,96% para 10,91%.
O viés positivo para a sessão veio do exterior antes mesmo da abertura dos negócios. A sinalização do presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, de que os juros japoneses podem sair do território negativo se somou aos dados chineses de crédito mais fortes e a uma nova ação do PBoC para tentar impedir uma desvalorização do yuan.
Geralmente, o PBoC “fixa” o câmbio em um determinado nível antes da abertura dos mercados e, então, a taxa de câmbio pode oscilar 2% para cima ou para baixo. Na tentativa de impedir nova depreciação cambial, o banco central chinês fixou o yuan em um nível bem mais apreciado que o esperado pelos agentes na segunda-feira.
“Ainda que eles tenham um modelo que não seja divulgado oficialmente, o investidor busca calculá-lo, e a divergência do que foi feito pelo banco central chinês em relação ao que o mercado esperava hoje [ontem] foi recorde, mostrando mais força do PBoC para segurar a depreciação da moeda”, nota o gestor de moedas do Opportunity Total, Valter Unterberger.
Embora o mercado tenha embarcado em um dia bastante positivo após a ação do PBoC e os dados de crédito mais fortes na China, o gestor ressalta que o cenário ainda é bastante incerto. “Não se sabe se vai haver estímulos de fato na China, porque não há, até agora, uma medida grande para estimular a economia como um todo”, diz.
O mercado, porém, aproveitou os primeiros sinais de recuperação na China, mesmo incipientes, para embarcar em um rali. Na bolsa, as ações ordinárias da Vale terminaram o dia com ganhos de 1,44%, na esteira da alta do minério de ferro.
Na visão do analista de commodities Patrick Conrad, da Western Asset, o cenário tem se mostrado mais construtivo para o setor de energia. “Temos duas Chinas nesse momento. O segmento de consumo reagiu muito melhor à reabertura e é parte da visão otimista para o petróleo, mas os setores de infraestrutura e construção seguem patinando e a visibilidade é baixa”, diz Conrad.
O analista, porém, enxerga possíveis gatilhos microeconômicos para uma recuperação das ações da Vale. “O minério de ferro reagiu positivamente ao dado de crédito na China, mas o mercado está cuidadoso com o setor. Reage bem às notícias, mas vai devolvendo ao analisar sua capacidade de penetração. Além disso, existe um descolamento entre a commodity e a Vale, já que a empresa apresentou problemas de produção e custos. Se isso melhorar, pode ajudar”, aponta.
Há, ainda, algum otimismo remanescente em relação a um desempenho positivo nos mercados domésticos à frente. O estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausio Giacomelli, diz preferir posições em juros em vez de câmbio no momento, ao acreditar que o crescimento do Brasil é mais vulnerável que a inflação. O banco alemão, assim, abriu posição comprada em NTN-F com vencimento em janeiro de 2029.
Já sócio e diretor de investimentos da Legacy Capital, Felipe Guerra, acredita que, em três meses, a atratividade do real deve ser menor do que agora diante de uma redução do diferencial de juros. Por isso, em “call” mensal da gestora, Guerra diz gostar de “comprar dólar contra posições de renda fixa como uma forma de hedge”. A Legacy, assim, tem posições aplicadas em juros prefixados e em NTN-Bs, mas usa o dólar como proteção.
Além disso, Guerra afirma ver espaço para o peso mexicano se valorizar contra o real. “As duas moedas têm um carrego [do diferencial de juros] muito próximo”, diz. “Mas se o Banxico [banco central mexicano] ficar parado até o fim do ano e o nosso BC continuar no ritmo de corte de juros que está adotando, as taxas de juros dos dois países vão se igualar. E toda vez que a Selic fica abaixo dos juros do México vemos uma queda do real”, aponta.
Fonte: Valor Econômico

