Os processadores de soja chineses adquiriram nesta semana uma grande quantidade fora do comum de grãos brasileiros, à medida que a guerra comercial em escalada torna inviáveis as compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos, após o presidente Donald Trump ter ampliado tarifas contra a China.
Importadores compraram ao menos 40 cargas do Brasil na primeira metade da semana, segundo pessoas com conhecimento do assunto, que pediram para manter o anonimato. As compras foram feitas para aproveitar uma recente queda nos preços da soja brasileira, que haviam subido nos últimos meses devido ao agravamento das tensões entre China e EUA, disseram essas fontes.
Embora Pequim tenha buscado diversificar suas compras agrícolas nos últimos anos — incluindo o aumento das importações do Brasil, que hoje é seu maior fornecedor de soja —, o grão ainda é a principal exportação agrícola americana para a China.
A disputa comercial se intensificou nesta semana, com o presidente Donald Trump aumentando as tarifas sobre a China para 125%, após Pequim anunciar planos de retaliar com uma tarifa de 84%.
As cargas são majoritariamente para entrega em maio, junho e julho, e equivalem a pelo menos 2,4 milhões de toneladas — quase um terço do volume médio que a China costuma processar em um mês, disseram as fontes.
O maior importador mundial de soja geralmente começa a depender dos suprimentos brasileiros a partir de fevereiro, quando as exportações sul-americanas dominam o mercado. Mas o volume e a rapidez das compras desta semana são considerados atípicos.
Os compradores chineses também foram atraídos pelas margens de processamento mais altas no mercado interno, após a disparada dos preços do farelo de soja diante dos temores sobre a guerra comercial.
Compradores comerciais vinham evitando a soja dos EUA nos últimos meses devido aos riscos da guerra comercial, mas o órgão estatal chinês ainda fez algumas aquisições americanas para reabastecer os estoques e antecipou carregamentos antes da posse de Trump, em janeiro.
Ainda assim, os grãos brasileiros podem ficar mais caros se as tensões entre as duas maiores economias do mundo continuarem elevadas, e uma escassez de oferta pode surgir no quarto trimestre, período em que a China costuma recorrer à nova safra americana. Isso provavelmente fará com que os processadores chineses permaneçam atentos a quedas de preços.
Fonte: O Globo

