Por Stella Yifan Xie, Dow Jones, Valor — Hong Kong
25/08/2022 10h43 Atualizado há 13 horas
Economistas disseram que os US$ 146 bilhões em medidas de estímulo que as autoridades chinesas anunciaram nesta semana para estimular a debilitada economia local não deverão alterar significativamente a trajetória de crescimento do país.
Após reduzir inesperadamente duas importantes taxas de juros na metade de agosto, Pequim intensificou seus esforços para sustentar o crescimento enquanto o país prossegue com sua rígida estratégia contra a covid-19, ao mesmo tempo em que enfrenta uma grande queda no mercado imobiliário e a mais grave seca em décadas.
O Conselho de Estado, o gabinete ministerial do país, aprovou na quarta-feira planos para a concessão de 300 bilhões de yuans, equivalentes a US$ 44 bilhões, em crédito a bancos para o apoio a projetos de infraestrutura, com os quais Pequim normalmente conta como um importante vetor do crescimento em períodos de recessão.
Ele também anunciou uma ajuda a governos locais, assim como para os setores de energia e agricultura, que têm sido duramente atingidos pelo calor extremo e a falta de chuva. Nesse pacote estão incluídos 200 bilhões de yuans em novas dívidas para empresas geradoras de energia.
No entanto, poucos analistas creem que o pacote de estímulo, de mais de 1 trilhão de yuans (US$ 146 bilhões), será capaz de tirar a economia chinesa do marasmo.
O mercado imobiliário continua mergulhado em uma recessão que já dura um ano, enquanto surtos frequentes de covid-19 continuam abalando a confiança do consumidor — amortecendo o impacto dos estímulos, afirmam esses profissionais.
Bruce Pang, economista-chefe da Jones Lang LaSalle para a China, diz que as autoridades chinesas reconhecem que a demanda insuficiente é um dos problemas fundamentais da economia, mas as soluções anunciadas ainda se concentram muito nos gastos do governo. “Retomar o crescimento estimulando a demanda interna e o consumo é uma prioridade política, mas continua sendo um desafio”, afirma ele.
Como parte do pacote, os governos locais — muitos já com problemas financeiros neste ano, em parte por causa da crise no mercado imobiliário — receberam 500 bilhões de yuans em bônus especiais de cotas que ainda não tinham sido usadas.
Mas esse apoio ainda é insuficiente para tapar o rombo fiscal dos governos locais, que precisam pagar pelas testagens em massa de covid-19, que não são financiadas pelo regime central, ao mesmo tempo em que têm receitas muito menores com as vendas de terrenos para os incorporadores imobiliários.
Entidades do governo chinês poderão enfrentar um déficit de financiamento de US$ 900 bilhões este ano, segundo estimativas do banco de investimentos Nomura.
Enquanto isso, autoridades chinesas disseram que não abrirão “as comportas do crédito” enquanto tentam chegar ao equilíbrio entre estimular o crescimento e evitar o agravamento da carga da dívida.
Analistas apontam para a desaceleração persistente das vendas de imóveis e dos preços das moradias como um dos pontos mais fracos da economia e que poderão se transformar em problemas maiores. A relutância de Pequim em abandonar sua rígida política de “covid zero”, que envolve frequentes testagens em massa e lockdowns direcionados, vem mantendo o consumo fraco e prejudicando a confiança do consumidor.
No mês passado, os líderes chineses abandonaram implicitamente a meta de crescimento anual de cerca de 5,5% em uma reunião, depois do crescimento anêmico de 2,5% no primeiro semestre do ano, que efetivamente tornou a meta inalcançável.
O Conselho de Estado também disse na quarta-feira que as autoridades facilitarão as viagens de negócios internacionais, num sinal de maior alívio nas restrições contra a covid. A maioria dos analistas acredita que a China manterá a política de “covid zero” pelo menos até o congresso do Partido Comunista no quarto trimestre.
Os governos locais poderão ajustar as políticas imobiliárias por conta própria, como eliminar o limite do número de casas que os cidadãos podem comprar, para estabilizar o mercado, segundo o Conselho de Estado. Ainda assim, muitos economistas preveem que as dificuldades no mercado imobiliário poderão continuar nos próximos meses.
“A não ser que haja medidas de afrouxamento da política, acreditamos que o crescimento geral continuará fraco no resto do ano”, escreveram economistas do Goldman Sachs em uma nota a clientes na quarta-feira, depois do anúncio do pacote. O banco de investimentos reduziu este mês sua previsão de crescimento anual para a China para 3%.
Fonte: Valor Econômico