Por Raffaele Huang, Dow Jones — Cingapura
11/04/2023 13h24 Atualizado há 13 horas
O órgão regulador de internet da China propôs ontem regras destinadas a controlar ferramentas de inteligência artificial (IA) semelhantes ao ChatGPT. Com isso, põe a regulamentação na vanguarda dos esforços de governos do mundo inteiro para coibir a nova tecnologia, diante de receios com os desafios que ela representa.
As regras estão sendo adotadas num momento em que as principais empresas tecnológicas do país avançam em seus planos de integrar a tecnologia nascente aos seus serviços.
A Administração de Ciberespaço da China exigirá que as empresas passem por uma avaliação de segurança do governo antes de fornecer esses serviços e declarará as empresas como responsáveis pelo conteúdo gerado pelos serviços de IA, segundo versão preliminar das regras. O conteúdo criado por esses serviços não deverá conter elementos passíveis de subverter o poder do governo, incitar ao separatismo ou desestabilizar a ordem social, determinam as regras.
As propostas mostram que os líderes da China querem manter sólido domínio sobre as regras de novas tecnologias, ao mesmo tempo em que abranda dois anos de medidas restritivas impostas às empresas de internet do país.
Governos do mundo todo estão discutindo se e como vão regulamentar a nova onda de ferramentas de IA generativa (que sintetiza texto, imagem ou vídeo), num momento em que algumas das principais personalidades da área tecnológica mundial alertam para a possibilidade de elas serem usadas para disseminar informações perniciosas ou para discriminar pessoas. Nos EUA o governo de Joe Biden começou a avaliar se será ou não necessário vistoriar as ferramentas. A Itália proibiu temporariamente o ChatGPT, dizendo que o chatbot captou e armazenou informações indevidamente.
O anúncio do órgão regulador chinês ocorre no mesmo dia em que o Alibaba lançou seu grande modelo de linguagem, chamado Tongyi Qianwen, que planeja integrar a vários produtos, incluindo seu site de buscas e seu assistente de voz, bem como áreas de entretenimento e comércio eletrônico.
Um dia antes, o SenseTime, mais conhecido por produtos de vigilância, como sistemas de reconhecimento facial, lançou o SenseChat, um serviço semelhante ao ChatGPT, e um conjunto de aplicativos baseados na SenseNova, seu grande sistema de modelos de IA. A Huawei Technologies disse no sábado ter lançado serviços baseados no Pangu, uma coleção de grandes modelos de IA que desenvolve desde 2019, para clientes empresariais de setores de finanças, farmacêutico e meteorologia.
Embora as empresas tecnológicas chinesas tenham dito que seus produtos de IA ainda são inferiores ao ChatGPT da OpenAI, que não é disponibilizado no país, elas se empenham em desenvolver versões próprias da tecnologia. A IA generativa pode lhes abrir novas oportunidades de gerar receita após o setor de internet ter sido golpeado, nos últimos anos, por uma supervisão reguladora mais rígida e uma economia anêmica.
As empresas têm de navegar por restrições, entre as quais os controles às compras de chips avançados necessários para treinar modelos de IA, além das rígidas políticas de censura adotadas na China.
As regras propostas pela China são mais detalhadas do que as diretrizes gerais discutidas em outras áreas, disse You Chuanan, da Universidade Chinesa de Hong Kong, Shenzhen, especializado em regulamentação tecnológica e governança global. As regras da China incluirão uma proibição ao cadastramento de dados pessoais, de contato e de preferências de usuários e imporá controles rígidos a conteúdos gerados por IA, o que poderá ameaçar a inovação, num momento em que a China combate os EUA no desenvolvimento de tecnologias avançadas, disse ele.
“A IA é um desafio à governança global”, disse You. “Governos de vários países deveriam trabalhar juntos para criar um padrão.”
Segundo a versão preliminar das regras, as empresas serão responsáveis por proteger as informações pessoais dos usuários, enquanto os dados usados pelos desenvolvedores para treinar seus produtos de IA deverão obedecer à legislação chinesa.
As regras de censura da China não apenas limitam o conteúdo que a IA poderá produzir como também restringem os materiais passíveis de serem usados pelos desenvolvedores chineses para treinar seus produtos a um conjunto muito menor do que o usado por seus concorrentes externos, dizem observadores do setor.
O órgão regulador de internet da China não informou quando as regras, que estão abertas a consulta pública até 10 de maio, serão implementadas.
Em março, a empresa de ferramentas de busca Baidu se tornou a primeira companhia de internet do país a lançar um chatbot que funciona à base de IA, o Ernie Bot.
Outras empresas seguiram o exemplo, na tentativa de comercializar tecnologias de IA que custaram centenas de milhões de dólares para serem desenvolvidas.
O Alibaba constrói seus próprios grandes modelos de linguagem desde 2019 e lançou em setembro passado seu sistema proprietário Tongyi, que aglutina vários modelos de IA generativa.
A empresa primeiramente integrará o Tongyi Qianwen, que pode ser traduzido como “milhares de perguntas por verdades universais” ao seu aplicativo de mensagens DingTalk. Ele poderá ser usado para resumir anotações de reunião, além de formular e-mails e propostas comerciais. O modelo de IA também será embutido no Tmall Genie, o assistente de voz do Alibaba, e será capaz, entre outras coisas, de fornecer receitas e dicas de viagem, segundo a empresa.
O chatbot do Alibaba tem capacidade de gerar texto, código de computador e de fazer cálculos, mas ainda não permite que os usuários produzam imagens. O Alibaba disse que ele executa tarefas em chinês e em inglês.
Durante demonstração ao vivo na segunda-feira, o chatbot da SenseTime, criado principalmente para responder a perguntas formuladas em chinês, mostrou ter capacidade de produzir texto, código de computador e imagens. A empresa também empregou o serviço para resumir estudos acadêmicos e prestar orientação médica. A SenseTime, sediada em Hong Kong, é respaldada pelo Alibaba e pelo SoftBank Group.
“Limitar-se a ter um modelo não é suficiente”, disse o analista Boris Van, da Bernstein Research, referindo-se aos esforços de IA das empresas chinesas de modo mais geral. “É preciso ter produtos e aplicativos que incorporem o modelo e usá-lo para gerar coisas reais que os clientes querem.”
Fonte: Valor Econômico
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