Por Valor, Com Agências Internacionais — São Paulo
07/12/2022 10h00 Atualizado há 52 minutos
O governo central da China anunciou, nesta quarta-feira (7), novas medidas para afrouxar a estratégia de tolerância zero contra a covid-19 após o país sofrer com duros impactos econômicos e semanas após uma onda de protestos contra a chamada “covid zero”.
Pela primeira vez, o governo vai permitir que casos positivos façam quarentena doméstica, ao invés de serem enviados para locais improvisados criados para isolar pessoas infectadas. As informações são do Financial Times e de agências internacionais.
As novas medidas foram anunciadas pelo Conselho de Estado depois de uma reunião do comitê executivo do Partido Comunista que enfatizou a importância de estabilizar a economia.
Alguns governos locais já estavam experimentando medidas semelhantes nos últimos dias, principalmente após os protestos contra a estratégia de “covid zero”.
O Conselho de Estado também informou que as pessoas não precisam mais de teste negativo para entrar na maioria dos locais públicos – uma medida que recentemente foi implementada por cidades como Pequim e Xangai.
Em Hong Kong, o índice de referência Hang Seng fechou em queda de 3%, enquanto o índice CSI 300 de ações listadas em Xangai e Shenzhen caiu 0,3% no mesmo dia em que os dados comerciais de novembro mostraram o maior declínio desde 2020.
Em sua reunião anterior, o comitê do Partido Comunista, presidido por Xi Jinping, disse que o governo “otimizaria a prevenção e o controle da epidemia” ao tentar estabilizar uma economia que cresceu 3% durante os primeiros nove meses de 2022, bem abaixo da meta de 5,5%.
Xi havia dito anteriormente que o coronavírus era um “vírus do diabo” que apenas uma “guerra popular total” poderia vencê-lo.
Chen Long, da Plenum, empresa de consultoria com sede em Pequim, disse que o fim da “covid zero” é evidente a partir da mudança no tom dos comentários de autoridades e da mídia estatal. Ele acrescentou que acabar com todas as restrições não seria um processo tranquilo, “mas estamos caminhando para isso com firmeza e não há como voltar atrás”.
Bert Hofman, diretor do Instituto do Leste Asiático da Universidade Nacional de Cingapura, disse que as novas diretrizes constituem “um grande passo”. “Eles definem um grande relaxamento da ‘covid zero’ e fornecem orientação centralizada para os governos locais seguirem. Embora ainda haja muitos desafios pela frente, este é um passo claro para uma maior abertura e minimização do impacto do controle da covid-19 na sociedade e na economia”, acrescentou.
Os dados comerciais de novembro da China, também divulgados na quarta-feira, forneceram o exemplo mais recente da pressão crescente sobre a economia, com exportações e importações contraindo com a maior margem em vários anos, após o enfraquecimento da demanda global por seus produtos.
As exportações em dólares caíram 8,7% no ano, para US$ 296 bilhões, a maior queda desde o início da pandemia em janeiro de 2020 e muito abaixo das expectativas de queda de 3,5%. As importações caíram 10,6%, para US$ 226 bilhões, a maior queda em dois anos e meio. Em outubro, as exportações e importações caíram apenas 0,3% e 0,7%, respectivamente.
As exportações da China para o resto do mundo dispararam durante os estágios iniciais da pandemia, impulsionadas pela demanda internacional por mercadorias durante os lockdowns. Mas essa força se desvaneceu em meio a um estresse econômico mais amplo causado pela crise imobiliária e pela abordagem ‘covid zero’, que reduziu a atividade econômica.
“À medida que a demanda global enfraquece em 2023, a China terá que depender mais da demanda doméstica”, disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management, que também espera que as exportações permaneçam fracas nos próximos meses, à medida que o país “passa por um processo de reabertura turbulento”.
Os números do comércio de quarta-feira foram os mais recentes de uma série de dados negativos relacionados à economia da China, que cresceu 3,9% no terceiro trimestre.
A demanda do consumidor doméstico permaneceu fraca sob os frequentes confinamentos, com as vendas no varejo contraindo 0,5%% em outubro.
Julian Evans-Pritchard, economista sênior da Capital Economics para a China, disse que os dados de importação refletem “a diminuição da demanda doméstica em meio a controles generalizados de vírus e fraqueza no setor imobiliário”.
“Uma mudança aumentará a demanda doméstica no médio prazo”, acrescentou. “Mas a transição para viver com o vírus provavelmente levará tempo.”
O superávit comercial do país foi de US$ 70 bilhões, 2,5% menor em comparação com o mesmo período do ano passado.
Fonte: Valor Econômico
