A probabilidade de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminar 2025 abaixo do piso da meta é 0% e de ficar acima do teto é 71%, de acordo com estimativas feitas pelo Banco Central (BC) no Relatório de Política Monetária (RPM) de setembro, divulgado nesta quinta-feira.
Para 2026, a chance de ficar abaixo é de 6% e acima, de 26%. Para 2027, 11% de ficar abaixo e 17%, acima.
A meta contínua de inflação é de 3% para 2025. O sistema prevê intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Os números não são as probabilidades de descumprimento da meta, já que desde janeiro está em vigor o sistema de meta contínua de inflação. Nessa nova metodologia, o descumprimento da meta acontece quando a inflação fica seis meses consecutivos fora do intervalo de tolerância.
A autoridade também projeta que o IPCA ficará em 3,2% no quarto trimestre de 2027. Para 2025 e 2026, a expectativa é de 4,8% e 3,6%, respectivamente. Para o primeiro trimestre de 2028, a projeção é de 3,1%.
As projeções do RPM de junho no cenário de referência para o IPCA eram de 4,9% para 2025, 3,6% para 2026 e 3,2% para 2027.
No acumulado em quatro trimestres até setembro deste ano, a inflação projetada é de 5,32%.
O BC também projeta IPCA em 0,62% para setembro, 0,23% para outubro, 0,22% para novembro e 0,53% para dezembro na variação mensal.
O relatório aponta que os preços de alimentação em domicílio devem ter variações mais elevadas até o final de 2025 com uma sazonalidade menos favorável e um risco de alta mais forte nos preços do boi gordo e da carne bovina. Já a inflação de bens industriais, projeta o BC, deve ser ajudada por movimentos da taxa de câmbio e de preços ao produtor, continuando em patamar próximo aos meses mais recentes.
No caso da inflação de serviços, a projeção é que as medidas de inflação subjacente continuem pressionadas “consistentes com o alto grau de inércia dos preços do segmento e com o mercado de trabalho ainda aquecido”. Já os preços administrados devem ser bastante influenciados pelas variações da energia elétrica residencial.
“A projeção adota hipótese de bandeira verde em dezembro, mas o cenário hídrico segue indicando risco elevado de bandeiras tarifárias restritivas no curto prazo”.
No trimestre encerrado em agosto, a surpresa inflacionária em relação aos percentuais previstos pelo BC foi de 0,56 ponto percentual abaixo do projetado. De acordo com o BC, a maior parte dessa surpresa tem relação com o efeito nas tarifas de energia elétrica residencial do bônus de Itaipu.
“A projeção apresentada no Relatório anterior considerava que a distribuição do bônus teria efeito neutro para a projeção do trimestre encerrado em agosto, com redução das tarifas em julho e retorno aos níveis normais em agosto. A distribuição do bônus somente em agosto teve impacto da ordem de -0,4 p.p. na inflação acumulada no trimestre”, apontou o relatório.
Além disso, o BC destacou que houve surpresas para baixo em alimentação no domicílio e bens industriais. Já o segmento de serviços registrou uma variação próxima ao projetado. Já bens industriais foi impactado pela queda de preço em automóvel novo, com impacto da redução do IPI prevista em projetos do governo.
“Ainda assim, as surpresas em bens industriais e alimentação foram relativamente disseminadas e podem refletir o repasse da recente apreciação cambial – além de alguns fatores idiossincráticos, como a queda nos preços do café no atacado até meados de julho”, disse.
Já a projeção para setembro foi revista de 0,15% para 0,62% entre os dois relatórios, refletindo a alta na projeção de energia elétrica pela reversão do bônus de Itaipu e da vigência da bandeira vermelha 2.
O BC alterou de 8,5% para 8,8% a sua projeção para o crescimento nominal do estoque de crédito em 2025, de acordo com o Relatório de Política Monetária.
Para pessoas jurídicas, a projeção de crescimento variou de 7,3% para 8%. Para pessoas físicas, foi de 9,3% para 9,4%. Para o crédito livre, variou de 8,3% para 8,4% e para o crédito direcionado de 8,8% para 9,5%.
De acordo com o BC, a revisão para cima do crescimento do crédito reflete em especial um desempenho acima do esperado do crédito direcionado para empresas.
Em avaliação sobre a dinâmica do mercado de crédito desde o relatório de junho, o BC apontou que “observou-se inflexão na trajetória de crescimento do saldo das operações de crédito do SFN” com uma diminuição do ritmo de crescimento, em parte, como efeito dos juros mais altos.
“A taxa de crescimento diminuiu em todos os segmentos, à exceção do crédito direcionado para pessoa jurídica”, diz o relatório.
Para 2026, o BC projetou crescimento de 8% no estoque do crédito total. Essa elevação é composta por alta de 7,7% no crédito livre e 8,3% no crédito direcionado. No caso de pessoas físicas, a projeção é de crescimento de 8,3% e para pessoas jurídicas, alta de 7,4%.
A expectativa, apontou o relatório, é de diminuição do ritmo de expansão do saldo de crédito.
“Essa variação considera menor crescimento no crédito livre, com moderação no crédito à pessoa física e expansão ligeiramente maior no voltado para pessoa jurídica. Nas carteiras com recursos direcionados, projeta-se manutenção do ritmo de crescimento de 2025 no crédito a pessoas físicas e arrefecimento no destinado a pessoas jurídicas”, apontou.
O BC afirmou ainda que a maior parte do aumento da Selic, hoje em 15% ao ano, parece já ter sido repassada para o custo do crédito livre, especialmente para pessoas físicas. De acordo com o BC, o mercado de crédito ficou mais restritivo nos últimos meses, principalmente no segmento de pessoas físicas. “As concessões diminuíram no período, impactadas pelo aumento das taxas de juros, por entraves no crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS e pela incerteza temporária acerca da incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as operações de ‘risco sacado’, explica.
A taxa média de juros do crédito livre a pessoas físicas aumentou 5,7 p.p. desde agosto de 2024 – mais que a taxa Selic, que subiu 4,5 p.p. “Esse resultado está em linha com estudo sobre repasse de variações da Selic para o custo do crédito, que constata que a maior parte do repasse ocorre no próprio trimestre de alteração na Selic”, avalia o BC.
Segundo o BC, entre as modalidades de longo prazo, o crescimento das concessões arrefeceu de forma generalizada e, nos últimos três meses, houve forte queda no crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS.
Fonte: Valor Econômico

