O CEO do Goldman Sachs, David Solomon, fez um alerta contundente sobre o aumento da dívida nacional dos Estados Unidos, afirmando que, se o atual caminho de gastos públicos continuar sem uma forte expansão econômica, “haverá um acerto de contas”.
Em entrevista ao The David Rubenstein Show, conduzida pelo bilionário e cofundador da Carlyle, David Rubenstein, o executivo foi questionado sobre o nível atual da dívida — que já chega a US$ 38 trilhões. “Algumas pessoas diriam que é muito”, observou Rubenstein.
Solomon afirmou que as pessoas com quem conversa estão preocupadas não apenas com o tamanho da dívida, mas com o ritmo em que ela tem crescido nos últimos cinco anos — e “parece que não temos a capacidade de reduzi-la”.
Ele argumentou que o estímulo fiscal agressivo se tornou algo “incorporado” ao funcionamento das economias democráticas.
Ele observou que a dívida cresceu consideravelmente desde a crise financeira de 2008, saltando de cerca de US$ 10 trilhões naquele ano para mais de três vezes esse valor atualmente.
A situação se agravou ainda mais em 2025, com a Fundação Peter G. Peterson calculando que o salto de US$ 37 para US$ 38 trilhões foi o mais rápido desde a pandemia. “Adicionar trilhão após trilhão à dívida e fazer Orçamento em meio a crises não é forma de uma grande nação como os EUA administrar suas finanças”, disse Michael Petersen, CEO da entidade, em comunicado à Fortune de 22 de outubro, logo após o Tesouro confirmar o novo recorde.
Solomon declarou que, se o governo continuar refinanciando sua dívida nas taxas atuais, o total deverá crescer ainda mais, alcançando “os quarenta e poucos trilhões, com certeza”.
O caminho para evitar a crise: crescimento, não receita
O executivo destacou que a solução para esse enorme endividamento não está, principalmente, em aumentos de impostos ou novas fontes de receita. Segundo ele, o “caminho da receita” é menos viável do que o “caminho do crescimento”.
Aumentar a taxa de crescimento econômico dos EUA seria essencial, disse, ressaltando a diferença “monstruosa” entre uma taxa composta de 3% da dívida (que cresce sobre todo o acumulado dos anos anteriores) e o crescimento simples de 2% na economia (que considera só o ano anterior).
Solomon mostrou otimismo quanto ao potencial de crescimento, citando o avanço tecnológico nas empresas como um fator de produtividade que pode melhorar as perspectivas.
Também mencionou o boom de investimentos em infraestrutura: seis ou sete grandes companhias devem gastar cerca de US$ 350 bilhões neste ano apenas nessa área. Mudanças recentes na política regulatória, focando apenas no que é “realmente necessário e eficaz”, também seriam um impulso positivo.
Solomon tem se mostrado otimista em relação à inteligência artificial ao longo de 2025, embora reconheça o risco de bolhas em parte do mercado de ações.
Em outubro, durante uma conferência em Turim (Itália) — onde Jeff Bezos também falou sobre o tema —, ele afirmou não saber “exatamente o que é ou não uma bolha”, mas ressaltou que “não é diferente desta vez… haverá muito capital investido que não trará retorno”.
Economia no curto prazo e instabilidade política
Apesar das preocupações de longo prazo, Solomon avaliou positivamente a situação econômica imediata, dizendo que “a economia está em boa forma neste momento” e que as forças de impulso superam os obstáculos, tornando baixa a chance de recessão no curto prazo.
Sobre a instabilidade política, ele observou que a imprevisibilidade é constante em qualquer governo, e que o papel dos líderes empresariais é “adaptar-se, ajustar-se e lidar com isso”. Ressaltou ainda a importância da independência do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), que, segundo ele, “tem nos servido muito bem” em escala global.
Solomon não é o único executivo preocupado com a dependência dos EUA em relação à dívida. O bilionário Ray Dalio, fundador do fundo Bridgewater, já alertou que, se o endividamento continuar crescendo, o país enfrentará um “ataque cardíaco econômico”. Dalio compara o problema ao acúmulo de “placas” nas artérias — uma metáfora que repete há anos.
Outros líderes também veem esse comportamento de adiar pagamentos como sintoma de uma mentalidade nacional.
Allan Merrill, CEO da construtora Beazer Homes, criticou na conferência ResiDay a postura de “querer coisas sem pagar agora, deixando que outros arquem no futuro”. Merrill citou que paga cerca de US$ 140 mil apenas em licenças para construir no norte da Califórnia e concluiu: “Temos sido irresponsáveis”.
Por fim, Solomon enfatizou que os EUA precisam continuar encontrando compradores para financiar sua dívida. E advertiu: se ela continuar crescendo, “em algum momento, não serão mais os outros países que terão de resolver a situação fiscal americana. Se continuar assim, seremos nós.”
Fonte: InfoMoney

