22 Oct 2023 CRISTIANE BARBIERI
Desde que o IBGE começou a abrir os dados trimestrais de crescimento do PIB, em 1986, não houve um só período em que o agronegócio não tenha crescido mais do que o restante da economia do País. A injeção de dinheiro nos Estados que respondem por mais da metade da produção agropecuária brasileira começa a se refletir também na queda da desigualdade social, medida pelo índice de Gini.
Após ultrapassar o Sudeste no indicador de todas as rendas do trabalhador e manter a conquista nos últimos cinco anos, o Centro-Oeste caminha agora em um movimento no qual pode liderar o índice no País, superando o da região Sul, segundo economistas.
Num primeiro momento, o impacto do agronegócio foi a geração de riqueza em Estados que tinham pouca participação no PIB. Segundo levantamento da consultoria MB Associados, considerando as projeções para 2023 e 2024 Mato Grosso deve registrar um crescimento de 782% desde 1986, quando o IBGE também começou a tornar disponíveis os dados de PIB estaduais. Mato Grosso do Sul também aparece na lista dos cinco maiores índices positivos entre os Estados, com alta de 307% no período.
Eles dividem a posição de maiores altas porcentuais com Estados do Norte, que foram beneficiados por outros fatores além do agronegócio. Além da base pequena de comparação, o crescimento do Amazonas foi estimulado pela Zona Franca de Manaus no período, e Roraima e Amapá tiveram a entrada massiva de migrantes de diferentes países latinoamericanos.
SUDESTE EM QUEDA. Esse movimento fez com que a participação do Sudeste na geração de riqueza do País caísse de 56,1%, em 2010, para 51,9% em 2020. Por outro lado, a do CentroOeste foi de 9,1% para 10,4% no mesmo período. As outras regiões também ganharam em torno de um ponto porcentual de participação no PIB.
“Há uma tendência clara de descentralizar a produção de riqueza, com o Sul e o Sudeste perdendo força, e o CentroOeste, que é uma região pujante há muito tempo, ganhando peso”, diz a economista Ana Carla Abrão Costa, vice-presidente de Novos Negócios da B3 e ex-secretária da Fazenda do Estado de Goiás.
“Por ser uma região muito produtiva, criam-se externalidades positivas claras, principalmente ligadas à renda, e era evidente que uma hora os bons indicadores em outras áreas começassem a aparecer.”
Gerada a riqueza, dizem os economistas, a tendência é de que seus benefícios se espalhem de maneira generalizada por toda a economia. “Com os índices sociais melhorando, a expectativa de vida, a saúde e a educação no Centro-Oeste têm se aproximado rapidamente da região Sul, que tem história de décadas de desenvolvimento e produção industrial”, diz Sérgio Vale, economistachefe da MB Associados.
“O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) das duas regiões já é parecido, e não é de se admirar se até o fim da década o índice de Gini do CentroOeste ultrapassar o do Sul e se tornar o maior do País.”
INDICADORES. No ano passado, o Sul liderava o índice de Gini medido por todas as rendas do trabalhador, com a marca de 0,43 (quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade social). O Centro-Oeste tinha 0,473 no indicador, e o Sudeste, 0,479. O Nordeste é a região de pior classificação, com a marca de 0,501. Individualmente, os Estados do Centro-Oeste têm índices bem próximos aos do Sul, mas o número é distorcido pelo Distrito Federal, onde o salário do funcionalismo público aumenta a desigualdade.
“Essa melhoria da condição de vida da população não é uma situação pontual, causada por um governo”, afirma Ana Carla. “A tendência de mudança vem lá de trás e, na educação, que é uma área em que os resultados aparecem no longo prazo, começou a mudar há mais de 20 anos. Goiás, por exemplo, se inspirou no Ceará e viu a evasão escolar recuar 54% em quatro anos, e os Idebs (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) têm melhorado constantemente.”
Com o desempenho, até mesmo os fundos constitucionais de financiamento, criados no Orçamento da União para ajudar no desenvolvimento econômico e social das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, teriam de ser rediscutidos, diz Vale. “O Centro-Oeste não é mais uma região pobre”, diz. •
“Era evidente que, uma hora, os bons indicadores em outras áreas começassem a aparecer” – Ana Carla Abrão Costa Vice-presidente de Novos Negócios da B3
Fonte: O Estado de S. Paulo
