Por Júlia Lewgoy — De São Paulo
22/06/2023 05h01 Atualizado há 4 horas
Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixar a Selic onde estava pelo sétimo encontro consecutivo, estrategistas e assessores de investimentos aconselham que os investidores se mexam. Com a expectativa de que a taxa básica de juros comece a cair em breve, o conselho é aumentar a alocação em aplicações financeiras de maior risco, conforme os objetivos e o perfil de cada um, mas não abandonar a renda fixa, que ainda está oferecendo juros altos antes deles diminuírem.
A autoridade monetária aumentou a Selic a partir de abril de 2021, de 2% para 13,75% ao ano, para desaquecer a economia e assim combater a inflação. Contudo, agora que conseguiu desacelerar a alta generalizada dos preços, o colegiado está perto de começar a cortar a taxa.
“Fomos surpreendidos com números melhores da atividade econômica no começo do segundo trimestre e a partir dali as indicações de posições em renda variável e renda fixa começaram a mudar”, afirma Raphael Figueredo, estrategista-chefe da casa de análises financeiras Eleven Financial. “Começamos a recomendar alocação maior em renda variável com as expectativas melhores, de atividade econômica mais alta e inflação mais baixa”, afirma.
Estrategistas e assessores de investimentos sugerem que os investidores com foco de longo prazo e com perfil de moderado a arrojado – não os conservadores – comecem a aumentar a alocação em aplicações de maior risco. Aqueles que ainda não possuem renda variável na carteira podem começar com fundos imobiliários e fundos multimercados. Os que já têm podem elevar a fatia de ações, com a ajuda de uma carteira recomendada, ou fundos de ações.
Os especialistas afirmam que a bolsa continua barata e que é bom aproveitar para comprar antes que os preços aumentem à medida que os juros caiam.
O Ibovespa está negociando ao redor de sete vezes o seu preço sobre o lucro (indicador conhecido como P/L), abaixo da histórica média de 11 vezes. Essa é a relação entre a soma do valor de mercado de todas as companhias do indicador dividida pela soma do lucro de todas as empresas que fazem parte do índice. Quanto menor essa relação, mais barato está o Ibovespa.
Contudo, a esperada baixa de juros deve acontecer devagar e não é para avançar em investimentos de maior risco com pressa.
“Estamos diante de um ciclo positivo para a renda variável, mas é bom controlar a euforia, porque esse corte da Selic não é estrutural. A troca de potinhos deve ser feita aos poucos e não na mesma velocidade em que a bolsa sobe”, diz Figueredo. Ele acrescenta que a renda fixa é parte extremamente importante da carteira e ainda deve ser a maior parcela do portfólio.
Mayara Ranni Sekertzis, líder da área de fundos e previdência da assessoria de investimentos Manchester, ligada à XP, também aconselha que os clientes de moderados a arrojados comecem a aumentar a alocação em investimentos de maior risco, até o limite de 20 a 40% da carteira.
Apesar do conselho para elevar a fatia de renda variável, é consenso entre os estrategistas e assessores de investimentos que não é para abandonar a renda fixa. Ainda é incerto até que nível a Selic cairá e em qual ritmo, e a expectativa é que a taxa continue em dois dígitos até o fim de 2023, pelo menos.
“Em cenários de corte de juros, é comum questionar se a renda fixa morreu e a resposta é não. Não vejo o Brasil se tornando a Suíça nos próximos 20 anos e a renda fixa continua sendo a menina dos olhos, a maior exposição dos brasileiros”, afirma Sekertzis. “Os ativos oferecem qualidade, segurança e rendimento interessante ainda”, diz.
Com a diminuição da taxa básica, especialmente os títulos atrelados à Selic no Tesouro Direto ou os papéis de bancos indexados ao CDI, como os CDBs, LCIs e LCAs, tendem a ficar menos atrativos. É dessas aplicações financeiras que boa parte dos especialistas aconselha resgatar o dinheiro para comprar investimentos de maior risco.
Cássio Bambirra, líder de renda variável da One Investimentos, ligada ao BTG, acha que os títulos prefixados estão valendo a pena. Contudo, aconselha comprar papéis com data de vencimento mais curta, mas não correr tanto risco.
Fonte: Valor Econômico

