Por Bloomberg
19/08/2022 05h03 Atualizado há 2 horas
Se Wall Street tiver razão, o grande renascimento do investimento em “value“ (valor) na era pós-pandemia corre o risco de desmoronar devido aos ganhos no mercado de títulos. Estrategistas do J.P. Morgan Chase ao Wells Fargo alertam que os dias de glória podem ter acabado para as ações vistas como baratas, já que investidores começam a vender papéis de companhias como produtores de petróleo e bancos na convicção de que a inflação atingiu o pico.
Ao mesmo tempo, empresas promovidas por seu potencial acima da média para elevar os seus lucros, conhecidas como ações de “growth” (crescimento), superaram os papéis de “value” (valor) em julho com a maior vantagem em 22 anos, mostram os índices MSCI, depois que gigantes de tecnologia como a Apple se recuperaram.
E, pela primeira vez em dois anos, a maioria dos investidores consultados pelo Bank of America no início de agosto disse que ações de valor ficarão aquém de empresas de crescimento daqui para frente. Há apenas alguns meses, o favoritismo dos papéis de valor estava no maior nível em mais de uma década.
“As macrotendências são muito favoráveis no longo prazo para o estilo ‘crescimento’ ”, disse Christopher Harvey, chefe de estratégia de renda variável do Wells Fargo, em entrevista. “Ações de valor normalmente têm melhor desempenho ao sair de uma recessão e entrar em uma recuperação devido ao seu balanço patrimonial e alavancagem operacional.”
Todo esse ceticismo é uma grande virada para um dos “trades” mais populares em Wall Street nos mercados pós-pandemia – e desafia várias pesquisas quantitativas, segundo as quais a relação entre juros e valor está longe de ser consistente historicamente. Não é à toa que investidores sistemáticos, como Cliff Asness, alertam que aqueles que esnobam essa opção de investimento com uma reação automática à queda dos rendimentos têm sido sugados por uma teoria “enganosa” de que há uma relação simples – e direta – entre os dois.
Por enquanto, os céticos podem comprovar com as saídas de US$ 3,3 bilhões dos fundos de índice dos EUA que acompanham ações de valor em julho, de acordo com dados compilados pela Bloomberg Intelligence. Enquanto isso, fundos de crescimento receberam US$ 5,4 bilhões em agosto, depois de US$ 3,8 bilhões no mês passado.
A sabedoria convencional argumenta que ações de valor, como Exxon Mobil e Berkshire Hathaway, tendem a ser mais cíclicas e oferecem fluxos de caixa de curto prazo, enquanto papéis de crescimento, como os de tecnologia, são valorizados por suas perspectivas de longo prazo.
Ações de crescimento são consideradas as maiores beneficiárias da queda dos rendimentos dos títulos, porque seus “valuations” e fluxos de caixa esperados são muito influenciados por mudanças nas taxas de juros.
Mas, apesar do aperto monetário mais rápido nos Estados Unidos desde a década de 1980, os rendimentos dos títulos caíram em relação às máximas, o que levou a uma rotação com a venda de ações baratas.
O J.P. Morgan diz que o fator de crescimento pode continuar ganhando, já que dados mais recentes sugerem que a economia está em desaceleração, mas Andrew Lapthorne, do Société Générale, não tem tanta certeza.
“Além de os bancos centrais não estarem apoiando os mercados financeiros como estiveram nos últimos anos, os lucros das ações de crescimento também têm se mostrado um pouco frágeis”, afirmou Lapthorne, chefe global de estratégia quantitativa da instituição financeira em recente nota enviada a clientes.
Fonte: Bloomberg / Valor Econômico

