Por Victor Rezende, Gabriel Roca e Matheus Prado — De São Paulo
05/06/2023 05h02 Atualizado há 40 minutos
Embora sustente um otimismo crescente com os ativos domésticos, o investidor local ainda mantém um tom mais cauteloso ao se referir ao desempenho do mercado local em prazos mais longos. Apesar da desconfiança em relação à condução da política econômica no futuro, o ambiente favorável para o Brasil se sobressai neste momento.
No fim do pregão de sexta-feira, o Ibovespa fechou em 112.558 pontos, maior nível desde 31 de janeiro; a taxa do DI para janeiro de 2029 caiu a 11,10%, menor patamar desde abril de 2022; e o dólar era negociado a R$ 4,95. Já os juros reais (descontada a inflação) de longo prazo, que chegaram a 6,5% em março, eram negociados a 5,65%.
“Enquanto iniciativas adotadas pelo governo desde janeiro trabalham para fragilizar a economia brasileira a médio prazo, no curto prazo a combinação entre ventos externos favoráveis, maior crescimento e a proximidade do início do ciclo de queda da Selic podem continuar dando suporte aos ativos brasileiros nos próximos três meses”, escrevem os profissionais da Ibiuna Investimentos em carta.
Eles, inclusive, ajustaram o portfólio para refletir a visão “taticamente mais construtiva com o Brasil”. A Ibiuna aposta na queda dos juros nominais e dos juros reais, além de ter posição vendida em dólar ante o real. A casa ainda reduziu o risco alocado à posição vendida em Ibovespa e comprada no real.
O diretor de investimentos (CIO) da Western Asset no Brasil, Paulo Clini, também adota uma visão otimista com os ativos locais no curto prazo. “Olhando para o que ajudou os mercados locais nas últimas semanas, fica claro que os sinais continuam presentes e, apesar de os ativos terem andado bem, parece existir espaço para mais, tendo em vista que os ‘valuations’ seguem descontados”, diz. “Reagimos à melhora na percepção das mesas internacionais da Western nos últimos dois meses e demos viés positivo à carteira local em todos os mercados, o que ainda mantemos.”
Clini avalia que não é possível ler a melhora observada recentemente como algo estrutural, já que ainda existem muitos desafios no campo macroeconômico, “mas é uma conjunção de fatores que pode dar suporte aos ativos em uma janela de dois a três meses”.
O executivo nota, ainda, que a inflação está desacelerando e que o Banco Central pode começar a cortar a Selic. “O início do ciclo tende a ser benigno para os ativos, já que investidores começam a olhar com mais atenção para a bolsa e para alongar posições em juros”, nota.
Nesse sentido, Julio Fernandes, sócio e cogestor macro da XP Asset Management, diz que a queda da inflação em março surpreendeu e “melhorou ainda mais a discussão sobre cortes de juros”. Desde março, a gestora carrega posições em NTN-Bs intermediárias e, agora, está mais construtiva com a bolsa.
“A discussão sobre a queda de juros é um ‘trigger’ [gatilho] suficiente para a bolsa ter uma alta inicial. Acabou saindo dos 100 [mil] para os 110 mil pontos”, nota. Aliadas à discussão sobre a queda de juros, as revisões no crescimento econômico também apoiaram a decisão de ampliar a aposta em bolsa.
“Uma atividade mais forte do que se antecipava é um bom cenário para a bolsa. Não achamos que é maravilhoso, já que, para isso, precisaríamos de uma visão melhor do fiscal de longo prazo e da possibilidade de os juros caírem ainda mais”, diz Fernandes. “Não vejo a bolsa subindo 30% ou 40%, mas vemos potencial de bater 120 mil pontos com alguma facilidade se o cenário de queda de juros acontecer e a atividade seguir firme.”
A visão de um risco fiscal menor e uma taxa de desconto mais baixa também dão apoio à aposta favorável da Quantitas na bolsa. “Parece que o BC conseguirá cortar os juros de forma sólida a partir de setembro. E, ao mesmo tempo, temos uma atividade que mostra força. Isso, para a bolsa, é positivo”, nota Rogério Braga, sócio e gestor dos fundos multimercado da casa.
Além disso, ele mantém na carteira posições em NTN-Bs de longo prazo há algum tempo. “Ainda gostamos, mas reconhecemos que elas já andaram bastante e que é natural reduzir a posição agora”, diz.
Fonte: Valor Econômico

