Com a disparada dos rendimentos dos Treasuries, o aperto adicional das condições financeiras globais e as discussões fiscais domésticas, o Banco Central acendeu um sinal de alerta ainda mais forte quanto ao aumento da incerteza na conjuntura econômica na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do início deste mês. Nos cálculos do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, o grau de incerteza manifestado pelo Copom agora atingiu o nível mais alto desde setembro de 2022.
Ao notar a alta quantidade de vezes que a palavra “incerteza” foi repetida pela autoridade monetária na ata da última decisão – 12, no total -, a LCA elaborou o “índice de incerteza do Copom”, antecipado ao Valor, construído a partir de um dicionário de palavras que indicam esse ambiente mais incerto. Para isso, a LCA utilizou as atas das reuniões do Copom, por serem documentos mais extensos, onde a autarquia costuma esmiuçar as discussões entre os dirigentes sobre a conjuntura econômica. “As atas costumam ter um conteúdo mais detalhado e extenso, onde é possível entender com mais clareza como o Copom ou parte dele está pensando naquele momento”, aponta Imaizumi.
“Lendo a ata da última reunião, notamos que o Copom havia utilizado bastante a palavra ‘incerteza’ e, então, construímos o índice observando o que já havia na literatura relacionado a um indicador de incerteza”, afirma o economista. O índice da LCA aponta que o documento divulgado na semana passada atingiu 209,29 pontos, maior nível em mais de um ano. Na ata, o colegiado se referiu a um momento de incerteza ao abordar o aperto das condições financeiras globais e os canais de transmissão das taxas de juros americanos; a estabilização da dívida pública; as metas fiscais; e os efeitos do El Niño na inflação.
Na elaboração do índice de incerteza do Copom, Imaizumi também fez uma comparação com o Índice de Incerteza Econômica (IIE-Br), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que analisa mensalmente cerca de 30 mil notícias de seis dos principais jornais do país e que tem um peso de 80% no indicador agregado. “Claro que eles são índices diferentes, já que um analisa a economia como um todo, enquanto o outro verifica apenas as atas do Copom, mas é interessante notar como há picos parecidos nos momentos de incerteza mais agudos”, observa o economista da LCA.
Dois momentos, porém, chamam a atenção, em particular, por terem sido capturados pelo indicador do Copom, mas não terem sido acompanhados pelo IIE-Br. De acordo com Imaizumi, o primeiro se dá em maio de 2017, quando o documento do Copom foi divulgado semanas depois da delação da JBS; enquanto o segundo momento mais evidente ocorre no início de 2022, quando a piora nas condições sanitárias e a invasão da Ucrânia pela Rússia elevaram a incerteza do Copom, em um sentimento que não foi acompanhado de perto pela incerteza na economia brasileira.
Cabe notar, ainda, que a última ata do Copom amplia, ainda que marginalmente, a distância em relação ao IIE-Br. “No documento divulgado agora, o Copom falou de diversos tipos de incerteza, como a do cenário externo; a incerteza fiscal; a climática devido ao El Niño O Copom, então, parece mais preocupado com a conjuntura econômica do que o que está sendo divulgado na mídia em geral. Esse descolamento recente chama bastante atenção”, afirma.
O cenário básico da LCA pressupõe que o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual na Selic deve ser mantido por mais três reuniões do Copom, para depois ser reduzido para 0,25 ponto e encerrar 2024 em 9,25%, com a possibilidade de o juro básico chegar ao campo neutro, ou apenas ligeiramente restritivo, em algum momento do primeiro semestre de 2025.
Fonte: Valor Econômico

