Um sentimento de cautela maior entre o empresariado no segundo semestre levou ao recuo de 0,5 ponto no Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) de setembro, para 74,6 pontos. A observação partiu de Rodolpho Tobler, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pelo indicador, anunciado hoje pela instituição.
Para ele, os empresários estão incertos de como será o ritmo de economia e de demanda para o período, em particular para o quarto trimestre. Na prática, isso adia decisão de abertura de novas vagas, o que leva ao recuo, no âmbito do indicador. Com a queda, o IAEmp foi conduzido para o menor patamar desde maio deste ano (74,6 pontos).
O especialista lembrou que, no primeiro semestre, as condições da economia brasileira foram melhores do que o estimado no início de 2023. Setores intensivos de emprego, como serviços e construção, mostraram boas performances, e ajudaram a reduzir a taxa de desemprego, nos primeiros meses do ano. “Tivemos, no primeiro semestre, dados de emprego melhores do que o esperado”, resumiu.
No entanto, ponderou que alguns setores chaves na economia, embora não tão empregadores quanto serviços por exemplo, continuam a andar de lado em atividade. É o caso de indústria e comércio, citou ele – e os empresários percebem a ausência de melhora nesses segmentos, o que aumenta percepção de cautela.
Ao mesmo tempo, os juros continuam em patamar elevado, lembrou o técnico. Mesmo com início, no segundo semestre, de corte na taxa básica de juros (selic) – que influencia juros de mercado como um todo – o impacto de cortes nos juros básicos leva tempo até chegar na economia real, recordou. Assim, com juros altos, isso inibe compras principalmente a crédito, o que não é favorável para trajetória de demanda interna, notou o técnico.
“A questão fiscal também pode ser um problema.” O técnico lembrou que noticiário recente tem mostrado preocupação do mercado com as contas do governo. Há possibilidade de que um possível controle de gastos, e de dívida pública, possa ser mais lento do que o esperado. Isso é mais um fator de incerteza no cenário macroeconômico, notou Tobler, e mais um tópico a contribuir para elevar cautela entre empresariado, completou.
Tendo em vista esses fatores, quando questionado se o IAEmp pode continuar a cair nos próximos meses, o economista respondeu que a tendência é que o índice permaneça a oscilar, até o fim do ano. Ele não descartou, no entanto que o indicador possa voltar a subir em dezembro – caso a inflação continue sob controle, bem como continuidade de trajetória de queda na taxa básica de juros. “Pode ser que fim do ano, dezembro, ele possa voltar a ser mais positivo”, admitiu.
Fonte: Valor Econômico

