Ao menos 112 fundos de investimentos guardavam em carteira CRIs e CRAs da Virgo, securitizadora sob investigação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), antes da denúncia de gestão temerária e uso indevido de valores do fundo de reserva dos títulos de crédito.
Para se ter uma ideia, esses ativos do guarda-chuva da Virgo somavam, em uma estimativa conservadora, R$ 4,2 bilhões dentro de um patrimônio total de R$ 77 bilhões desses 112 fundos no dia 1º de agosto. O levantamento foi feito pela Mukta a pedido do Valor Investe.
Este valor inclui a exposição direta, ou seja, a presença dos papéis na carteira dos fundos; e indireta, quando um fundo tem cotas de outro fundo exposto.
A média de exposição é de 5,41% do patrimônio líquido, mas há 17 casos em que esse percentual é maior que 20% e oito que superam 30%. Para 15 deles, não há dados disponíveis do valor dos CRIs e CRAs em carteira.
A maioria são Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs), que representam 85 do total. Outros 24 são Fundos de Investimento nas Cadeias do Agronegócio (Fiagros) e um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios.
Para analistas do mercado de crédito privado, os números mostram que o episódio tem mais impacto sobre a credibilidade da securitizadora e o debate sobre governança no mercado de crédito privado do que sobre a estabilidade dos fundos que carregavam seus papéis. “A dispersão da exposição é um fator de proteção: evita que um problema localizado vire risco sistêmico”, comenta um gestor ouvido pela reportagem.
Na última semana, a Riza Holding, que controla a gestora de mesmo nome, fechou um acordo não vinculante, com exclusividade, para a compra da operação de securitização da Virgo. Pelos termos da transação, a Riza irá comprar os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) emitidos pela Cedro que estão no centro da crise provocada pelo uso indevido de fundos de reserva de outros papéis. “A operação, uma vez concluída, possibilitará o resgate dos recursos atualmente investidos no Allocation sem qualquer prejuízo aos investidores de títulos emitidos pela Virgo.”
Ainda assim, o caso acende um alerta importante para investidores, sobretudo os de varejo que aplicam em FIIs e Fiagros sem pleno conhecimento da estrutura de CRIs e CRAs. Ao contrário de depósitos bancários, esses títulos não contam com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o que torna a análise de risco do emissor e da estrutura de proteção essencial antes do investimento.
Outro gestor de crédito privado acredita que, pelo tamanho de volume exposto na Virgo, a história não deve ser encerrada com o acordo da Riza. “Os investidores institucionais agora vão buscar mudar a logística do mercado pelo susto que tomaram. É um bom sinal que a Virgo esteja querendo arrumar a casa, mas o estrago já foi feito”.
Nos próximos dias, a CVM deve aprofundar a apuração sobre a Virgo e pode determinar medidas adicionais de transparência e fiscalização no setor. A expectativa no mercado é que a investigação traga lições para reforçar a transparência das securitizadoras e ampliar a confiança dos investidores em um segmento que cresce rapidamente, mas ainda precisa de maturidade regulatória.
Fonte: Valor Investe

