A geradora de energia renovável Casa dos Ventos deve anunciar nos próximos meses um plano de investimentos de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões, voltado à construção de novos projetos de geração renovável. Segundo o diretor executivo da companhia, Lucas Araripe, a intenção da empresa é aprovar entre 2 e 2,5 gigawatts (GW) em novos empreendimentos eólicos e solares.
Atualmente com 2,3 GW eólicos em operação, a Casa dos Ventos avança na construção do parque eólico Serra do Tigre, de 756 megawatts (MW), no Rio Grande do Norte, e também está instalando 300 MW de painéis solares próximos a parques eólicos já operacionais na Bahia. Além disso, em janeiro deste ano, anunciou os primeiros projetos integralmente solares, a serem construídos em Mato Grosso do Sul, somando 900 MW corrente alternada (MWac).
Com isso, até meados de 2026, a Casa dos Ventos deve chegar a 4,3 GW de potência instalada. A capacidade adicional a ser construída deve permitir que a companhia alcance 6,3 GW até o fim de 2027.
Mudança regulatória ajuda
Num momento em que muitas geradoras paralisaram seus planos de investimento, diante das dificuldades enfrentadas devido à sobreoferta de energia, aos cortes de geração (curtailment) e às incertezas quanto a possíveis mudanças nas regras setoriais, a Casa dos Ventos busca vias alternativas para estimular novas cargas e garantir a expansão de sua capacidade instalada.
A empresa tem sido beneficiada também pela corrida de alguns consumidores por assegurar contratos de autoprodução antes que uma alteração proposta da Medida Provisória (MP) 1.300/2025 entre em vigor e limite os potenciais benefícios dessa modalidade.
“O momento é muito bom para nós, de crescimento, e um pouco contraditório aos demais geradores, mas em grande medida porque nós temos essa postura de gerar nosso próprio mercado; além disso, temos um histórico positivo com os parceiros, e isso tem começado a reverberar em novos contratos”, afirma Araripe.
Volatilidade contribuiu para acordos de longo prazo
Para o executivo, a volatilidade observada nos preços de energia nos últimos meses, após quase três anos de valores próximos aos mínimos regulatórios, contribuiu para que o consumidor passasse a querer contratar maiores volumes no longo prazo. Adicionalmente, a tendência de aumento dos encargos pagos nas tarifas de energia também passou estimular que os consumidores adotem o modelo de autoprodução, em que ele se torna sócio da usina, o que o isenta de alguns desses custos.
A MP 1.300, publicada em maio, prevê determinadas exigências mínimas para que o consumidor possa aderir à modalidade. Com isso, diz Araripe, houve uma aceleração da tomada de decisão por parte de alguns interessados, de modo a garantir o enquadramento na regra antiga, o que garantiu à empresa alguns contratos.
Contrato em dólar é diferencial
Araripe cita ainda como diferencial nas negociações com consumidores a possibilidade de contratação em dólar, alternativa que se mostra atraente para os exportadores, mas também favorece um melhor preço da energia da geradora, que pode acessar financiamentos em moeda estrangeira.
Eletrificação de caldeiras é frente de negócios
Em outra frente de negócios, a Casa dos Ventos tem buscado impulsionar novas demandas por eletricidade em seus próprios clientes, especialmente a partir de soluções que também propiciam a descarbonização. Uma das iniciativas neste sentido é a produção de vapor para processos produtivos. Hoje, boa parte das indústrias usam caldeiras a gás natural ou óleo, e a companhia busca convencer a trocá-las por caldeiras elétricas.
Segundo Araripe, setores como alumínio, papel e celulose, indústria química e de alimentos e bebidas precisam gerar muito vapor, com volumes que correspondem a cerca de 6 GW equivalentes em eletricidade. “Se conseguirmos ser mais competitivos do que óleo e gás, e estamos convictos que sim, podemos deslocar esses 6 GW elétricos”, diz.
Para isso, a geradora se compromete não apenas a fornecer a energia, mas realizar o investimento na infraestrutura necessária, incluindo a caldeira e a linha de transmissão para conexão à subestação mais próxima.
Companhia tem projeto de polo de data centers
Outra aposta de nova demanda da Casa dos Ventos é o projeto já anunciado para construir um polo de data centers no Porto de Pecém, no Ceará. A primeira fase, de 300 MW, tem início de obras previsto ainda em 2025, e operação comercial em 2027.
“Conseguimos desenvolver uma oportunidade que despertou o interesse seja de empresas que querem se associar para construir a infraestrutura com a gente, seja da parte de offtakers (clientes finais); temos conversado com várias empresas, mas em conversas mais avançadas com algumas”, diz, sem citar nomes.
Araripe afirma que, no que diz respeito à energia renovável associada ao projeto, a companhia tem segurança para já avançar no investimento. No entanto, a iniciativa também envolve a infraestrutura necessária para a instalação dos data centers, incluindo prédios, linha de transmissão, refrigeradores, entre outras estruturas que demandam US$ 2 bilhões, a serem desembolsados em parceria com outros investidores, o que ainda depende da assinatura de um acordo.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 15/07/2025, às 16:43.
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Fonte: Estadão

