A Casa dos Ventos, empresa da família Araripe, fechou a compra de um projeto eólico da PEC Energia, controlada pela Engeform Energia, por R$ 100 milhões. O empreendimento adquirido tem 350 megawatts (MW) de potência e fica na Serra da Ibiapaba, região próxima a Jericoacoara e Sobral, no Ceará, onde a Casa dos Ventos já desenvolve outro projeto.
O CEO da empresa, Lucas Araripe, conta que a estratégia da companhia é integrar o ativo com outro já existente na região para criar um complexo de 600 MW de capacidade instalada, voltado ao atendimento de novos mercados, especialmente o setor de data centers.
“Estamos em um momento, até o fim de 2025, de aprovar novos projetos com uma escala relevante. Diferentemente do resto do setor, temos conseguido gerar novos mercados, sobretudo em data centers”, diz. “Uma das alternativas é que o ‘off-taker’ [empresa compradora da energia] seja um data center”, acrescenta.
O executivo não revela, mas nos bastidores o projeto é apontado como potencial fornecedor do Data Center Pecém II, em Caucaia (CE). O empreendimento é fruto de uma parceria entre a ByteDance, dona da rede social chinesa TikTok, e a própria Casa dos Ventos.
O projeto comprado já está desenvolvido, ou seja, com estudos técnicos, licenciamento ambiental e viabilidade econômica concluídos, pronto para a construção. Contudo, a decisão final de investimento deve ser tomada até o fim do ano e demandará cerca de R$ 3,5 bilhões. O próximo passo será a compra das turbinas.
Para a Engeform, a operação representa uma realocação de recursos. O CEO Gilberto Feldman explica que a decisão de venda é estratégica, pois a companhia concluiu recentemente o parque eólico Serra das Vacas e ainda dispõe de energia excedente no portfólio.
“Temos adquirido pequenos projetos e nos associado a outros desenvolvedores, oferecendo soluções que vão desde o atendimento a pequenos consumidores e à autoprodução de energia até o desenvolvimento de usinas para quem deseja ser dono do próprio empreendimento”, diz Feldman.
O negócio ocorre poucos dias após a publicação da Medida Provisória 1.307/25, apelidada de “MP dos data centers”, assinada pelo presidente Lula. A norma abre o mercado para data centers e favorece o projeto da Casa dos Ventos, pois determina que empreendimentos instalados em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) utilizem só energia renovável proveniente de novas usinas.
Empresas dentro de ZPEs contam com benefícios fiscais, o que reforça o apelo econômico de projetos voltados ao segmento. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já emitiu pareceres de conexão para data centers no Estado, abrindo caminho para a viabilização do fornecimento.
“Big techs” fora do Brasil têm priorizado o que se chama de energia firme, ou seja, a contratação de fornecimento contínuo e estável garantido por fontes que operam 24 horas por dia, como a energia nuclear, capaz de assegurar confiabilidade e previsibilidade no abastecimento de data centers e outras operações críticas.
A Abradee, associação que representa as distribuidoras, avalia que a nova regra pode aumentar a conta de luz. Isso porque a exigência de usar apenas fontes renováveis traz um desafio: essas fontes geram energia de forma intermitente, ou seja, não produzem de maneira contínua. Para garantir o fornecimento sem interrupções, seria necessário complementar com outras fontes mais estáveis, o que pode encarecer o sistema.
“Data center precisa de um fornecimento estável e, quando você tem uma fonte que não oferece esse perfil de carga que é demandado, será preciso usar outras fontes para suprir. Isso precisa ser verificado, porque, do contrário, vamos ter alguém que vai pagar por energia barata, mas vai usar uma energia cara”, disse Marcos Madureira, presidente-executivo da Abradee, em evento em São Paulo.
Por outro lado, Feldman diz que a combinação de fontes de energia com diferentes perfis de produção horária, como eólica e solar, possibilita a otimização da capacidade ociosa do sistema de transmissão, o que permite uma produção de energia sem grandes oscilações ao longo do dia.
Fonte: Valor Econômico

