Por Fabio Murakawa e Larissa Garcia, Valor — Brasília
27/09/2023 16h12 Atualizado há 11 horas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reuniram-se nesta quarta-feira pela primeira vez desde que o petista assumiu o poder, em janeiro. O encontro, no Palácio do Planalto, foi pensado para “pacificar os ânimos” entre os dois, após meses de atrito, disseram ao Valor fontes a par do tema. Ele foi intermediado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também participou da agenda.
Após o encontro, Haddad afirmou que a reunião foi muito “produtiva e cordial”. Ele contou que ficou acertado entre Lula e Campos reuniões periódicas. “Foi um encontro institucional, de construção de relação, de pactuação em torno de conversas periódicas.” Haddad e Campos já mantêm uma rotina de almoço-reunião a cada 45 dias, em média. Ainda segundo Haddad, não foram abordados tópicos específicos durante a reunião. “Presidente [Lula] deixou claro o respeito que tem pela instituição [o BC], a reciprocidade foi muito boa da parte do Campos Neto.”
O encontro, inicialmente marcado para às 17h30, ocorreu com cerca de uma hora de atraso. Campos chegou ao Palácio pontualmente. Mas o presidente recebia, naquele momento, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que pedia medidas para mitigar os efeitos das enchentes.
Segundo relatos, o atraso não irritou Campos. Ele e Haddad ficaram na antessala do gabinete de Lula conversando tranquilamente. Discorreram sobre o Plano de Transição Ecológica do governo e sobre as chuvas no Rio Grande do Sul, até o presidente retornar.
A relação entre Lula e Campos tem sido ruim desde antes da posse do petista. Eles tiveram uma reunião durante a transição de governo, mas o encontro foi descrito por interlocutores como “péssimo”, “seco” e “exageradamente protocolar”. Lula disse então a auxiliares que o presidente do BC foi “arrogante”.
Lula seguidas vezes criticou Campos com palavras duras pelos juros de dois dígitos diante da inflação em queda — embora o indicador estivesse acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional. Em alas do PT, o presidente do BC, indicado pelo governo anterior, é visto como bolsonarista.
O encontro de ontem foi construído ao longo de meses. E facilitado pelas quedas da Selic. A indicação de Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo de Haddad, para a diretoria de política monetária do Banco Central também foi um facilitador para a interlocução.
Segundo o Planalto, o encontro ocorreu a pedido de Campos. Haddad fez a intermediação. Um dos ministros mais próximos de Lula, ele tem boa interlocução com o presidente do BC. Fonte da área econômica afirmou ser “muito importante” o encontro e que é fundamental que o titular do BC e que o presidente da República dialoguem. Segundo ele, Campos fez ponte com parlamentares de oposição para explicar pautas do governo, o que abriu as portas com o chefe do Executivo.
“Tem pleitos também relativos ao funcionalismo, que está piorando a situação no BC, talvez ele deva comentar a situação”, disse a fonte.
Os servidores do BC, em operação padrão desde julho, reivindicam a criação de um bônus de produtividade semelhante ao que foi regulamentado para a Receita Federal e reestruturação da carreira. (Colaborou Jéssica Sant’Ana)
Fonte: Valor Econômico

