Na política dos EUA vale a pena seguir o dinheiro. No caso de Donald Trump, o dinheiro está fugindo dele na forma de várias multas – no valor de cerca de US$ 530 milhões no mês passado. Os acordos não são suficientemente altos para provocar a falência de Trump. Seu patrimônio líquido é de cerca de US$ 2,6 bilhões. Mas elas engolirão o seu saldo de caixa e limitarão gravemente a capacidade da Trump Organization de operar. Ele enfrenta uma proibição de contrair empréstimos por três anos em Nova York, onde alavancou originalmente seu nome.
A cura óbvia para os problemas empresariais de Trump é reconquistar a Casa Branca. Ao contrário de quaisquer condenações federais que Trump possa sofrer entre agora e o dia das eleições, está claro que ele não terá poder como presidente para perdoar a si próprio pela sua onda de perdas civis. Mas outro mandato lhe daria grande margem para reabastecer os cofres da família de outras maneiras. O mundo está concentrado principalmente em saber se Trump vai tirar os EUA da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), abandonar a Ucrânia e começar novas guerras comerciais. Os adversários internos de Trump, enquanto isso, estão preocupados com a ameaça que ele representaria à ordem constitucional dos EUA.
Todos esses espectros são palpáveis; a maioria é altamente provável. O que é certo, porém, é que Trump vai buscar o dinheiro. Pouco antes de tomar posse como presidente em janeiro de 2017, Trump dobrou as taxas de associação ao seu resort de Mar-a-Lago para US$ 200.000. Em seus primeiros dois anos no cargo, os hotéis Trump conseguiram cerca de US$ 7,8 milhões em negócios de governos estrangeiros, principalmente Arábia Saudita, China, Catar, Kuwait e Índia. Durante o governo Trump, a China acelerou numerosas marcas registradas para as empresas de sua filha Ivanka Trump. Logo após ele deixar o cargo, o marido dela, Jared Kushner, recebeu um investimento de US$ 2 bilhões do fundo soberano da Arábia Saudita. Isso, sem mencionar os vários acordos de licenciamento que Eric e Donald Jr – filhos de Trump, que dirigiram os negócios da família enquanto ele estava na presidência – fecharam no exterior. Isso está longe de ser um fundo trust “cego” [nos quais os políticos costumam colocar seu dinheiro para evitar conflitos de interesse].
Em tese, é ilegal dar presentes ao presidente dos EUA. No entanto, com exceção de um suborno direto em dinheiro, tais regalos são difíceis de provar em um tribunal. A Suprema Corte rejeitou petições para ouvir os conflitos de interesses de Trump em 2021, alegando que eles não eram mais relevantes porque ele havia deixado o cargo. Desde então, Trump desviou cerca de US$ 50 milhões em doações de campanha para pagar suas contas legais. Se a Comissão Eleitoral Federal tivesse força e regras mais claras, essa má direção não teria sido permitida. No entanto, como Trump continua lembrando à sua base, as regras são para idiotas. O único obstáculo realista à monetização da presidência por parte de Trump é o eleitorado dos EUA.
Como o patrimônio líquido de Trump poderá diminuir, as oportunidades para influenciar as suas decisões serão grandes. Não é por acaso que a sua chamada proibição muçulmana nos primeiros dias de seu governo excluiu os países ricos do Golfo Pérsico. Ela deveria ter sido chamada de “proibição dos países muçulmanos pobres”. Sua primeira viagem ao exterior como presidente foi para a Arábia Saudita. Os sauditas foram os segundos ocupantes mais lucrativos dos hotéis Trump em Nova York e seu hotel em Washington nos primeiros dois anos de seu mandato. A China ficou em primeiro lugar. A menos que ganhe no recurso, Trump está agora proibido de tomar empréstimos junto a bancos licenciados em Nova York até 2027. Isso aumenta muito a alavancagem de potenciais credores no Golfo Pérsico e em outros lugares. A Trump Organization não consegue funcionar sem dívida.
Fonte: Valor Econômico

