Por Arthur Cagliari — De São Paulo
27/02/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
Os fundamentos para o câmbio tiveram uma piora recentemente, com a taxa real efetiva fechando o ano de 2022 muito próxima do equilíbrio, após as definições do quadro de integrantes do novo governo, conforme apontou estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre o tema, antecipado ao Valor.
De acordo com Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), no final do ano passado houve uma revalorização do real porque a moeda brasileira vinha sendo penalizada pela indefinição política e por questões externas. “Quando acabaram as eleições e as nomeações do governo terminaram, o câmbio deu uma apreciada. Houve uma valorização da moeda por questões conjunturais”, afirma. “Esse movimento durou até comecinho de janeiro, mas depois o câmbio voltou a depreciar.”
A taxa de câmbio real de equilíbrio – que indica o desempenho da moeda brasileira frente a uma cesta de divisas e ajustada pela inflação – terminou o mês de dezembro valorizada, em média, em cerca de 4,3% ante a linha de fundamentos, de acordo com a análise. O que explica essa valorização é uma piora discreta em vários fundamentos analisados, tais como termos de troca, posição internacional de investimentos e transações correntes.
Em dezembro, a taxa nominal do dólar contra o real valorizou 1,47% depois de recuar 1,62% em novembro, após as definições das eleições, mas em meio a incertezas sobre a formação do novo governo e do Orçamento para 2023. Em janeiro, o dólar recuou 3,88% e, em meados de fevereiro, chegou a operar abaixo de R$ 5 na mínima do dia.
Segundo Marçal, desde 2017 é possível ver uma tendência de piora dos fundamentos. “Não é nada crítico, mas mudaram as tendências. Isso pode botar pressão caso o movimento persista.”
Marçal aponta ainda que a definição de um arcabouço fiscal tem papel importante para a definição do câmbio. “Precisa ser uma regra crível e que deixe claro que a relação dívida/PIB vai cair, porque não dá para continuar nesse comportamento que vimos nos últimos dez anos”, disse.
Fonte: Valor Econômico

