Por Nikkei Asia, Valor — Tóquio
19/06/2023 11h32 Atualizado há 5 horas
Semicondutores fabricados por empresas do Japão estão conseguindo burlar as sanções e sendo vendidos na Rússia. A maioria das transações passa por terceiros países, como a China, o que significa que as leis japonesas que regulam as exportações diretas não podem impedir o fluxo destes produtos. São necessárias medidas adicionais para interromper o fluxo indireto de mercadorias e tornar as sanções mais eficazes.
Em março de 2022, o Japão se alinhou com os EUA para impor sanções e restringir a exportação de semicondutores produzidos internamente. Embora as restrições tenham sido implementadas em etapas de acordo com o produto e outros fatores, “os semicondutores (estão) sujeitos aos regulamentos desde o início”, disse um funcionário do Ministério da Economia, Comércio e Indústria.
Segundo dados alfandegários russos obtidos pela empresa de pesquisa indiana Export Genius, que examinou registros de importação de 24 de fevereiro de 2022 a 31 de março de 2023, mostrou que foram feitas pelo menos 89 mil transações de semicondutores envolvendo fabricantes japoneses no período.
As transações incluíram pelo menos 2 milhões de unidades e totalizaram cerca de US$ 11 milhões. A China, incluindo Hong Kong, foi responsável por mais de 70% dos embarques, seguida pela Coreia do Sul e Turquia.
Em abril, os semicondutores fabricados nos EUA que foram banidos pelo governo de serem enviados para a Rússia estavam entrando no país europeu por meio de empresas de Hong Kong e de outros lugares.
Enquanto as sanções aplicadas pelos EUA afetam empresas de países terceiros, a regulamentação japonesa sobre o assunto abrange apenas as exportações diretas do Japão. Dados comerciais do Japão mostram que as exportações de semicondutores para a Rússia em 2022 totalizaram 150 mil unidades, uma queda de 85% em relação ao ano anterior. No entanto, o Japão não pode controlar o comércio de chips de forma eficaz por meio de outros países.
Uma empresa comercial com sede em Hong Kong exportou cerca de 4 mil semicondutores fabricados pela japonesa Kioxia Holdings para uma empresa russa em outubro de 2022 por cerca de US$ 170 mil. Um indivíduo que a Ucrânia determinou estar envolvido na produção de armas russas detém participação nesta empresa russa.
A Kioxia admitiu que seus produtos estão sujeitos a controles de exportação e disse que “exige que seus distribuidores cumpram os regulamentos de exportação de cada país”. A empresa acrescentou que “não foi capaz de confirmar nenhum caso de entrada de produtos na Rússia”. As empresas chinesa e russa não responderam aos pedidos de comentário do “Nikkei”.
Em março de 2022, a King-Pai Technology, uma empresa chinesa, despachou US$ 150 mil em semicondutores fabricados por outro fabricante japonês para uma empresa russa. Em junho daquele ano, a King-Pai foi sancionada pelo Departamento de Comércio dos EUA por fazer negócios com uma empresa militar russa.
Os líderes da cúpula do Grupo dos Sete (G7) em maio disseram que trabalhariam para desencorajar a evasão das restrições à exportação. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse: “Agora estamos focados em fechar a porta para brechas”. Lidar com a distribuição de semicondutores, que envolve cadeias de suprimentos complexas, também será um teste para os controles de exportação do Japão.
Fonte: Valor Econômico