Por Alessandra Saraiva e Paula Martini — Do Rio
20/01/2023 05h00 Atualizado há 6 horas
Um cenário de inflação persistente e juros elevados levou a endividamento e inadimplência recordes no ano passado, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) de 2022, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O levantamento aponta que 77,9% declararam-se endividados em 2022, fatia recorde para pesquisa, iniciada em 2010; e sete pontos percentuais acima de 2021. Ao mesmo tempo, 28,9% declararam-se inadimplentes, no ano passado – sendo que 10,7% informaram não ter condição de pagar. Em 2021, essas parcelas eram respectivamente de 25,2% e de 10,5%.
O resultado mostra que o brasileiro, principalmente de menor renda, tomou mais emprestado no ano passado para fazer frente às despesas diárias, explicou o diretor de Economia e Inovação da CNC, Guilherme Mercês. Mas, com preços em alta e crédito mais caro, em 2022, o orçamento ficou cada vez menor para pagar contas e quitar dívidas, notou ele.
Esse cenário pode perdurar em 2023, alertou Mercês. O especialista defendeu ações de curto prazo – como programa para auxiliar endividados de baixa renda – para melhorar o atual cenário. Medidas de longo prazo macroeconômicas, que possam diminuir patamares de inflação e de juros, também foram sugeridas pelo especialista.
A pesquisa mostrou outros recordes, também preocupantes: o patamar de “superendividados” também chegou ao pico, assim como uso de cartão de crédito e cartão de crédito de loja varejista. Na Peic, 17,6% declararam-se “muito endividados”. Entre os endividados, 86,6% citaram cartão de crédito como modalidade de crédito favorita, ante 82,6% em 2021. O uso de cartão de loja em 2022 ficou em 19%, ante 18,1% em 2021.
Outro aspecto preocupante na Peic, de acordo com Mercês e com a economista da CNC Izis Ferreira, é o fato de que o pagamento de dívidas rouba muito espaço no orçamento do brasileiro. Em 2022, 30,2% da renda mensal do brasileiro era destinado a pagamento de débitos, mesma parcela de 2021; mas a maior desde 2016 (30,6%).
O quadro é pior quando se fala entre no endividamento entre os mais pobres. Ao se focar apenas endividados com renda abaixo de dez salários mínimos, a parcela de renda mensal destinada a pagar dívida ficou em 30,9% em 2022, alertaram os especialistas. Esse porcentual além de ser maior do que de 2021 (30,8%), foi o maior desde 2016 (31%).
Para Mercês, todo esse cenário não foi delineado de uma hora para outra. “Durante a pandemia [iniciada em 2020] e após a pandemia o endividamento explodiu”, disse, lembrando que a covid conduziu a uma grave crise econômica, com perdas de empregos e negócios.
“Houve aumento abrupto da inflação e aumento rápido da taxa de juros”, afirmou. “O cenário atual reflete famílias muito endividadas e com dívidas muito caras”, disse. “Isso impede consumo desse ano e mitiga efeito de programas de auxílio, de transferência de renda.”
Fonte: Valor Econômico

